*Este texto foi escrito por mim em 2012 e publicado pelo grande jornalista Chico Maia no www.chicomaia.com.br. Uma grande honra.
Ontem foi dia de Clássico na capital. As torcidas em polvorosa,
os jogadores em ritmo de concentração, a imprensa correndo para um lado e para
outro. No interior também tinha Clássico, mas numa toada diferente, sem alarde,
sem pressa, sem exageros, porque tudo isso faz mal ao sertanejo.
Primeiro
tinha o almoço com a família, porque, antes de tudo, vêm as coisas de Deus. Um
franguinho caipira, com quiabo; arroz de forno, feijão tropeiro e uma
cachacinha para abrir o apetite. Depois, uma caminhadinha pela praça da matriz,
que é para fazer o quilo e colocar as conversas em dia. Daí sim, vai-se ao
grande clássico.
O
jogo é pela televisão e a reunião em um dos barezinhos da cidade. Não há
torcida única ou demarcação de território. Sentam-se todos juntos pelas mesas
espelhadas. Um, mais apressado, levanta a mão e chama o garçom; pede uma
cerveja e o papo começa. Os palpites são muitos e os resultados vários. A
balbúrdia é intensa, mas se finda com o apito inicial.
Jogo
tenso, intenso. Os torcedores com o coração acelerado e garrafa passando de mão
em mão. O tira-gosto do lado, que e para não faltarem as forças. Os gols saem
rápidos, rasteiros, empolgantes. Não tem brigas, apenas provocações, gozações,
gritos de gol. A polícia passa, apenas para garantir a ordem; a ambulância
desce a rua, sem correria, sem sirene, numa ronda rotineira. O tempo voa e a
vida passa.
Finda-se
o clássico. Não há vencedores nem vencidos, apenas a impressão de que aquele
foi um jogo bom, como os clássicos de outras épocas. Um pequeno grupo se reúne
junto à porta, para fazer a resenha final; conversam alto, alterados pela
loirinha, enquanto outros seguem para casa. Ainda tem a missa; o jantar e,
depois, dormir, porque não é todo dia que a cidade passa por tanta badalação.
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