Fizesse sol ou chovesse, ele
sempre estava lá. Chegava como quem nada quisesse e assentava-se sempre do
mesmo lado. As pessoas que esperavam os ônibus já o conheciam, nem lhe davam
mais importância. Não pedia esmolas, nem dizia qualquer coisa, apenas
assentava-se ao seu canto e punha-se a observar. Às vezes descansava o queixo
sobre as mãos, com as pernas dobradas sobre o banco, mas, na maioria das vezes
ficava paralisado, feito uma estátua humana, mirando ao longe.
Não possuía qualquer recipiente
onde os transeuntes pudessem depositar algumas moedas, também não tinha as
roupas surradas ou andava sujo. Contrariamente, era uma pessoa aparentemente
distinta: sempre com sua calça social bem passada, com a camisa alinhada e os
cabelos bem penteados. A barba estava sempre impecável e tinha os dentes
alvíssimos, realçando uma beleza achocolatada.
Durante toda a manhã,
invariavelmente, ele chegava. Assentava-se e ficava, até que desse à hora do
almoço. Nenhum passante lhe dirigia a palavra. Não fazia questão de que lhe
falassem, apenas queria ficar ali, por umas quatro ou cinco horas, olhando todo
aquele movimento, quase imóvel, quase invisível.
Ninguém sabia onde morava,
se tinha esposa, filhos ou se morava com os pais. Pelas roupas e pelos modos, ninguém
acreditaria se morasse debaixo de algum viaduto ou numa favela qualquer.
Certamente, era um homem de bem, que, talvez, tivera algumas posses e, quem
sabe, perdera no carteado ou com as putas da Guaicurus. Ninguém sabia qualquer
coisa daquele sujeito, apenas que podia ser encontrado todos os dias naquele
mesmo ponto de ônibus, sem nunca pegá-los, sem nunca fazer menção de subir ou
descer em qualquer outra parada.
E foi num dia ensolarado,
numa segunda-feira qualquer, enquanto as pessoas andavam para um lado e para
outro, como se fossem formiguinhas apressadas em busca de suprimentos para o
inverno, que ele morreu. Sem dizer qualquer palavra, levantou-se, ainda na
metade do seu expediente, deu sinal ao primeiro ônibus que passava, entrou,
assentou-se no último banco à direita, fechou os olhos e descansou. O ônibus ia
para a estação Paraíso.
Meu caro confrade, faça cópias, para o arquivo de nossa Academia e aceite meus parabéns, perfeito e lindo.
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