sexta-feira, 22 de junho de 2018

ESPÍRITO DA COPA?


De barba feita e banho tomado, foi até a padaria. A esposa e os filhos ainda dormiam. O sol surgia lentamente por detrás dos coqueiros. Boa parte da cidade ainda dormia. No boteco, alguns homens falavam sobre o jogo. Um, mais exaltado, previa, em alto e bom som, que o Brasil venceria. “Um a zero”. “No sufoco!”. Um cachorro esquentava o sol da manhã na esquina dos Correios, enquanto um resto de fogueira ainda fumegava na praça da igreja.

Na rua, nenhuma bandeirola, nenhuma pintura sobre a Copa, nada de verde e amarelo. O espírito da Copa ainda não havia chegado. Talvez ainda viesse, no segundo jogo, na segunda fase, nas finais: se o Brasil chegasse. O certo é que não existia mais o Brasil de outros tempos. Não eram mais os mesmos jogadores; já não existia a magia de outrora, já não havia Pelé, Garrincha, Romário ou Ronaldo. Já não havia, verdadeiramente, uma seleção brasileira.

O café, acompanhado de dois pães de queijo, estava forte, vistoso, mas, ainda incapaz de levantar o espírito copeiro. Tomou-o lentamente, observando o movimento que aumentava na praça. Dois meninos desciam em suas bicicletas, conversando alto, falando besteiras, cantando refrões sem nexo; uma mocinha descia para o trabalho, apressada, já atrasada, arrumando o cabelo esvoaçado; uma senhora entrava pela porta, dando “Bom Dia”, perguntando pelos pães da hora.

Ninguém falou da Copa. Ninguém se lembrou do Brasil, do Neymar, Jesus, Firmino; ninguém xingou o Tite. A televisão, ligada em outro canal, falava de política, de crimes, mortes, da greve dos professores. E uma mulher reclamava a “falta de respeito com os meninos”. Mas, da Copa, nenhuma palavra sequer. Outro café e mais um pão de queijo. Era hora de voltar. Talvez a casa já tivesse acordado.

Os bêbados ainda estavam no boteco. Agora eram mais, talvez uns sete, ou oito. Um outro dizia, em meio a toda aquela balbúrdia, tentando se fazer ouvir, que  o Brasil não venceria: “Costa Rica, uma zero. Um a zero!”. O cachorro ainda esquentava sol na esquina dos Correios e a fogueira ainda fumegava na praça da igreja. De resto, nenhuma menção à Copa, nem às quadrilhas, São João, São Pedro. Já não eram mais os velhos tempos!

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