Numa
rede social, dois amigos de longa data, partindo de um brilhante desenho feito
pelo primeiro, teclavam a respeito dos prédios históricos corjesuenses.
Tristemente, falavam dos descasos sofridos pelas edificações através dos
tempos, com o segundo afirmando que algumas construções da centenária cidade em
nada ficavam a dever às cidades históricas mineiras, devendo, portanto, ser
protegidas pelos governantes e munícipes, coisa que, deveras, não acontece.
Concordando plenamente com ambos, desliguei os dados
móveis do aparelho celular e, deitado na velha rede, olhando um sabiá que
descansava sobre o biribazeiro, enquanto os cachorros corriam de um lado para
outro atrás de uma bolinha esverdeada, já desbotada pelo tempo e toda marcada
pelos dentes dos tantos cachorros que a morderam, abri um livro de Fernando
Sabino e iniciei sua leitura.
Abri o livro aleatoriamente, dando numa Crônica em que o,
ainda jovem, autor belorizontino escrevia ao modernista Mário de Andrade,
agradecendo-o pelos conselhos que o havia dado sobre a arte de escrever;
demonstrando, assim, o remetente, o seu respeito ao já famoso expoente da nossa
Literatura, com quem divide as suas dúvidas, angústias e anseios, confiando, verdadeiramente,
na sua sabedoria.
Não continuei a leitura. Fechei o livro, descansei os
olhos e relembrei as falas tecladas pelos amigos. Eles tinham razão, a nossa
história precisa ser preservada, protegida por todos nós. Pena que, ao
contrário de Sabino, ainda não tenhamos a consciência de que precisamos da experiência
para construir nossos caminhos, pelos exemplos, pelos ensinamentos, pela
segurança que o passado nos traz.
É comum que todos os governantes sempre falem em
preservar a Cultura do lugar, assim como é senso comum que todos nós devemos
respeitar os mais velhos. Tudo palavras jogadas ao léu. Somos seres de palavras
vãs e ações mínimas. Por isso, viajamos das nossas plagas para visitar casarões
antigos em cidades históricas; vamos à Bahia para tirarmos fotos onde os
portugueses primeiro pisaram a nova terra; ouvimos os famosos senhores que
aparecem contando coisas à toa na televisão, compartilhamos palavras tolas de sábios
senhores das redes sociais, mas, invariavelmente, quase nunca paramos para
observar as belezas e os ensinamentos que nos cercam, pois achamos que tudo
isso são meras piegas velharias.
O sono já me abatia quase por inteiro, quando o celular
caiu da minha mão, dando com a cara no chão úmido pela água da chuva, que
escorrera ainda de madrugada. Despertei de súbito, peguei-o, limpei a tela e
liguei os dados móveis novamente. Assim como quase todos os meus contemporâneos,
estou viciado em redes sociais. A tela se abriu e uma linda imagem da lagoa
surgiu. Curti a foto de algum amigo virtual e pensei em ler alguns dos muitos
comentários que seguiam; mas, o sono da tarde me pesava os olhos; ademais, num
breve rastreamento, pude visualizar que nenhum daqueles comentaristas era deste
lugar. Tudo gente de outras paragens. Fechei os olhos e dormi.
Preservando o passado nos permite fazer um futuro melhor.
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