terça-feira, 6 de novembro de 2018

PALAVRAS À TOA


Numa rede social, dois amigos de longa data, partindo de um brilhante desenho feito pelo primeiro, teclavam a respeito dos prédios históricos corjesuenses. Tristemente, falavam dos descasos sofridos pelas edificações através dos tempos, com o segundo afirmando que algumas construções da centenária cidade em nada ficavam a dever às cidades históricas mineiras, devendo, portanto, ser protegidas pelos governantes e munícipes, coisa que, deveras, não acontece.

            Concordando plenamente com ambos, desliguei os dados móveis do aparelho celular e, deitado na velha rede, olhando um sabiá que descansava sobre o biribazeiro, enquanto os cachorros corriam de um lado para outro atrás de uma bolinha esverdeada, já desbotada pelo tempo e toda marcada pelos dentes dos tantos cachorros que a morderam, abri um livro de Fernando Sabino e iniciei sua leitura.

            Abri o livro aleatoriamente, dando numa Crônica em que o, ainda jovem, autor belorizontino escrevia ao modernista Mário de Andrade, agradecendo-o pelos conselhos que o havia dado sobre a arte de escrever; demonstrando, assim, o remetente, o seu respeito ao já famoso expoente da nossa Literatura, com quem divide as suas dúvidas, angústias e anseios, confiando, verdadeiramente, na sua sabedoria.

            Não continuei a leitura. Fechei o livro, descansei os olhos e relembrei as falas tecladas pelos amigos. Eles tinham razão, a nossa história precisa ser preservada, protegida por todos nós. Pena que, ao contrário de Sabino, ainda não tenhamos a consciência de que precisamos da experiência para construir nossos caminhos, pelos exemplos, pelos ensinamentos, pela segurança que o passado nos traz.

            É comum que todos os governantes sempre falem em preservar a Cultura do lugar, assim como é senso comum que todos nós devemos respeitar os mais velhos. Tudo palavras jogadas ao léu. Somos seres de palavras vãs e ações mínimas. Por isso, viajamos das nossas plagas para visitar casarões antigos em cidades históricas; vamos à Bahia para tirarmos fotos onde os portugueses primeiro pisaram a nova terra; ouvimos os famosos senhores que aparecem contando coisas à toa na televisão, compartilhamos palavras tolas de sábios senhores das redes sociais, mas, invariavelmente, quase nunca paramos para observar as belezas e os ensinamentos que nos cercam, pois achamos que tudo isso são meras piegas velharias.

            O sono já me abatia quase por inteiro, quando o celular caiu da minha mão, dando com a cara no chão úmido pela água da chuva, que escorrera ainda de madrugada. Despertei de súbito, peguei-o, limpei a tela e liguei os dados móveis novamente. Assim como quase todos os meus contemporâneos, estou viciado em redes sociais. A tela se abriu e uma linda imagem da lagoa surgiu. Curti a foto de algum amigo virtual e pensei em ler alguns dos muitos comentários que seguiam; mas, o sono da tarde me pesava os olhos; ademais, num breve rastreamento, pude visualizar que nenhum daqueles comentaristas era deste lugar. Tudo gente de outras paragens. Fechei os olhos e dormi.

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