Sol
de rachar a moleira e os meninos brincando na rua. Um redemoinho tenta derrubar
as roupas do varal, enquanto dona Maria corre de um lado para outro tentando
pegá-las. “Ave Maria, Ave Maria, Ave Maria!”; um menino assovia, com os outros
indo atrás, numa algazarra sem tamanho. “Para de sobiar, bando de capeta! Senão o redemoinho não para!”.
Da
janela, entreaberta, Carlinhos olha a cena. As férias mal começaram e ele já
está entediado. Na televisão só notícia de política. Um ministro que prende,
outro que solta; um deputado que rouba, outro que julga sem poder julgar; um
senador que nem sabe da missa a metade. Futebol de verdade só em Janeiro, agora
só um bando de marmanjos debatendo, gritando, discutindo as possíveis contratações
de cada time.
Alguém
disse que as aulas só devem começar em Março. Fosse em outros tempos e ajudaria
o pai na roça, limparia algum lote ou ia engraxar sapatos na praça; mas isso era
em outros tempos. Ainda tem dezesseis; é grande demais para correr com os
outros meninos na rua; é novo demais para trabalhar. Foi numa dessas que quase
prenderam seu Antônio, só porque tinha colocado os meninos pra vender laranja
pela vizinhança.
Alessandra
não para de postar fotos. Foto de biquíni,
na praia; foto no restaurante do hotel; foto com a família em cima de um morro,
de onde podem ver toda a cidade. A última viagem de férias que tinha feito já
faz bem uns quatro anos, quando foram para a Lapa do Bom Jesus. O pai sempre
faz planos de voltar, mas Carlinhos queria mesmo é ir pra praia. Queria estar
na foto junto de Alessandra.
Pedro
mandou alguma mensagem no telefone. Não vai ler agora, certamente é mais um
daqueles vídeos pornôs que ele manda a cada quinze minutos. Os meninos
continuam correndo, outro redemoinho surge na esquina. As portas e janelas da
casa de dona Maria estão todas abertas e ela já vem correndo da casa de Luciana.
Um menino começou a assoviar e os outros foram atrás. Da janela entreaberta,
Carlinhos sorri e imagina Alessandra só de biquíni na praia.
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