sexta-feira, 4 de outubro de 2019

POEMA DE RESIGNAÇÃO (MUTAÇÃO)

Justo agora
que sou rei
entrego-te
o meu reino.

Entrego-te
minha vida
que se tornou
meu trono.

E dou a ti
meu sonho
que meu não é,
entrego-te.

Leva a vida
que meu reino
te oferece,
mas deixe-me

Morto em mim
solto em mim
preso em mim
que sou sonho

E inexisto,
se é que existe
esta dor
que está em mim

e tu não vês, 
nem sentes,
e não sabes
que me mata

Como flecha
que perfura
o árduo peito
em candura.

Entrego-te
meu reino
mas peço-te
minha vida

pra que eu morra
e comigo
leve o sonho
que não e meu

pois não és tu,
ó, serpente!
da crua noite
a nua deusa

que m'encanta
os alvos dias
e faz roer
a crua dor.

Vai-te, e deixa
eu sonhar
com o terno
ser do amor.

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