sexta-feira, 4 de outubro de 2019

MUTAÇÃO (Primeiro Poema)

A partir de hoje, publicarei neste espaço os poemas do meu primeiro livro: MUTAÇÃO. O mesmo foi publicado no ano de 2003, tendo sido lançado no "Psiu Poético" de 2004, em Montes Claros, com a sua apresentação no evento feita pela professora Ivana Ferrante, da Universidade Estadual de Montes Claros, contando no seu prefácio com as inteligentes palavras do professor e radialista Benedito Said. 

Observa-se aqui não se tratar de um primor técnico no fazer poético; não obstante, é possível notar a puerilidade presente em cada verso, a verdade em cada estrofe, além das críticas sociais em cada entrelinha. Assim, não seria demasiada a afirmativa de que se têm em cada página os passos de uma travessia, de um autoconhecimento, uma construção poética e pessoal.

MUTAÇÃO não é um livro construído para se lê tomado por críticas ou pré-conceitos. Antes, tratam-se de poemas a serem lidos com o espírito adolescente, com todas as suas falhas, as suas incongruências e, indubitavelmente, uma eterna esperança de que se há de chegar a algum lugar, levado pelas asas da poesia. E tenho dito!



SENTIMENTO LÚCIDO


Se amo não conto
para que os outros não saibam o que é amar.
Guardo-o para mim, no fundo do peito,
em forma de gélidos casulos
que, confesso, às vezes derretem
e saltam de mim em forma de lágrimas,
em forma de saudade,
em forma de verdade, em forma de dor.
Se amo não conto
e se amo não sei, por não saber o que é.
Mas, às vezes, quero amar
para sentir no peito a dor
(tão grande como a morte prematura)
e sentir na áspera pele (de rapaz trabalhador)
os calafrios mórbidos dos amantes
que nem Baudelaire ou Drummond,
no afã de suas sabedorias, me conseguiram explicar.
Acho que nunca amei, mas amo.
De manhã, quando amanheço,
amo o sol que me incendeia o frio olhar;
de tarde, quando escureço,
amo as estrelas
que iluminam, do céu, meu obscuro saber.
Durante todo o dia porém, enquanto vivo,
carrego no peito uma dor, em forma de mulher,
que às vezes finjo inexistir, e amo.
Mas não sei o que é amar, haja vista que sofro,
e o amor não se carpe em mim.
Se amo não conto
mas quero quem ame
para dizer-me de mim... e do meu amor.
E contar que me ama (sem rogo)
e que para mim o amor guiará
e entre as frestas e a candeia me fará sonhar.
Mas não quero um qualquer amor,
quero aquele que se esconda de mim
e me diga baixinho que não sei amar.
É por isso que se amo não conto
para não dizer o amor que não é assim que é!

Elismar Santos 

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