Fazia tempos que não chovia. Arnaldo olhava para o céu pensava que seria bom umas boas pancadas d'água no Sarará. A barragem lá embaixo já estava com os dias contados, dificilmente chegaria a dezembro; dos braços de rio, muitos tinham secado e nem mesmo lama existia no lugar, só terra seca e lembranças do exagero de água que havia.
Nos tempos de Lourenço tinha muita água. Até mesmo das pedras desciam filetes, que escorriam até o rio. Os pastos estavam sempre verdes e o gado escolhia, como ricos senhores, onde tirar o de comer. Agora, sobraram poucas cabeças, reses secas esparramadas pelo chão, debaixo dos pequizeiros, sem forças para se levantar, sem coragem para viver.
Candinha fazia promessas e rezava novenas. Maria não gostava da esposa do Arnaldo, não engolia a forasteira e arrematava, consigo mesma, nos sozinhos da cozinha, que um dia ela haveria de aprontar alguma com o marido. Desde há muito percebera os olhares de Reizinho, dos quais a mulher porcamente se desvencilhava, aquilo nas lhe descia. Pobre Arnaldo! Por isso, Candinha rezava suas novenas sozinha e prometia que, se chovesse antes de findar o ano, haveria de acender uma vela na gruta do Bom Jesus. Ela não queria mais voltar àquele lugar, mas a fé lhe fazia crer no sacrifício.
Doutor Reis continuava lendo seus livros. Entretinha-se agora com o Memorial de Maria Moura, enquanto construía a heroína com a feição de Candinha. Seria ele o assassino do Arnaldo? E se ela não o quisesse, se o fizesse matar e depois o findasse também?! Candinha não seria capazes de tudo isso. Com certeza, não seria. Fechou o livro e olhou para os céus: a chuva não chegaria tão cedo. Talvez o melhor fosse esquecer a promessa feita ao velho; vender a fazenda; pegar Candinha e fugir para a capital. E isso não tardaria a consumar-se.
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