quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

O BEZERRO

Hoje tive que ir ao Pitinha, sozinho, meio de supetão. Era cedo ainda e eu tomava o café sentado na varanda, enquanto as vacas comiam os pequis que caíam dos pés àquela hora, quando Tonico viera me falar.

Eu tinha deixado Candinha ainda adormecida, vestida com uma camisola branca, com os cabelos caindo sobre os olhos, sonhando coisas que talvez mais tarde me contasse, assim como sempre fazia, e encontrei Maria terminando o café, que me foi servido com um bolo de fubá.

O homem tinha chegado correndo e falava destaramelado,  sem que lhe sobrasse tempo mal para respirar. Disse que uma das vacas estava dando cria, mas que o bezerro não queria sair, e que se não buscasse Pedro de Carmelita no Pitinha, nenhum dos dois sobreviveria.

Pedro de Carmelita era o dono da Loja do Fazendeiro. Não era formado em  coisa alguma, mas sabia curar todos os tipos de doenças que qualquer bicho apresentasse, sempre oferecendo remédios, injeções e até benzições para salvar vacas, cachorros, cabritos, coelhos e galinhas.

Tonico não poderia ir, pois precisava ajudar a vaca no parimento, e mesmo com a ajuda dos  meus três cabras,  quase não conseguiam puxar o bezerro para fora. Ficariam os quatro fazendo força, enquanto eu fosse buscar ajuda, urgente, sob o risco do prejuízo; era uma das vacas com a maior quantidade de leite produzido.

Entrei em casa, peguei o chapéu e montei no cavalo, que o marido de Dina já trouxera selado. Só alguns quilômetros à frente foi que me vieram as lembranças do Arnaldo. O medo tomou conta da minha alma e em toda sombra de árvore eu avistava o meu falecido amigo. Andei como louco, segurando firme o chapéu para que não voasse da minha cabeça, rezando para que nada de mau me pudesse acontecer.

Pedro de Carmelita não se opôs em vir comigo. Chegamos rápido ao Sarará e Candinha já me esperava junto à porta, enquanto Dina preparava um suco de Tamarindo para que nos refrescássemos do intenso calor já àquela hora da manhã.

A vaca já está correndo pelos pastos com seu bezerro que, depois de muita luta, nasceu forte e saudável. É um macho, que em breve darei de presente ao filho mais velho de Tonico. O menino é prestativo e vez ou outra, depois de arrumar a casa, vem ao curral ajudar o pai na ordenha das vacas. É bastante parecido com a mãe, com os olhos bonitos e o sorriso tímido. Tonico é mesmo um homem de sorte.

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