Dina tem ensinado Candinha fazer coisas diferentes na cozinha. Ontem, pela primeira vez, comi um bolo de mandioca com queijo, o qual a mulher de Tonico chama de João Deitado. É bastante gostoso, apesar de, talvez pela imperícia da minha esposa, vez ou outra eu ter encontrado pedaços de palha de bananeira dentro do bolo, sendo que a mesma deveria apenas envolvê-lo.
As duas passam boa parte do dia confabulando junto ao fogão de lenha, fazendo bolos, biscoitos, doces e um monte de novidades, as quais me cabe experimentar. Os meninos de Tonico passaram a tomar conta das coisas em casa, enquanto o pobre homem prepara o almoço entre os deveres do Sarará.
Não tenho cobrado maiores esforços do Caseiro e, com a tranquilidade que estamos gozando, ordenei aos meus homens que ajudem nas lidas com o gado e os outros serviços de maior monta. A verdade é que as lembranças e os temores com o Arnaldo vão aos poucos desaparecendo da minha mente, trazendo de volta a confiança que tinha desaparecido.
Hoje me peguei observando Dina e Candinha encostadas ao fogão. Ambas preparavam o almoço, enquanto Maria varria as folhas do quintal. A minha esposa não tinha se dado conta de que eu estava por perto e conversava amenidades. A esposa de Tonico havia percebido a minha presença e, pode ser apenas impressão, sorria com o canto da boca, enquanto parecia me olhar de soslaio.
Preferi não ficar por muito tempo na cozinha. Tirei o pigarro da garganta a fim de chamar a atenção e as mulheres me olharam com caras de espanto; Candinha veio, deu-me um beijo e voltou para os seus afazeres. Peguei a garrafa de pinga no armário e fui para a varanda, enquanto Dina continuava a me olhar. Antes de sair, virei-me uma última vez e ela me pareceu piscar um dos olhos. O Tonico é mesmo um homem de sorte.
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