domingo, 26 de janeiro de 2020

O FRANGO SEM CABEÇA


Mike viveu um ano e meio sem cabeça e o seu dono era responsável por alimentá-lo e limpar os seus mucos na garganta. Li esta história numa rede social e, como tudo que está lá é verdade, acredito piamente que tenha acontecido.

Para bem entender o fato, é preciso esclarecer que Mike era um frango, que teve a cabeça cortada pelo seu dono e mesmo assim teimou em não morrer, virando figura de sucesso nos Estados Unidos. Ainda de acordo com a publicação, o frango famoso morreu engasgado com seu próprio muco, enquanto o dono procurava a seringa de sucção.

Para provar que isto pode ser verdade, recordo-me de uma vez em que passei uma semana no sítio de um amigo, à beira de um rio, comendo e bebendo bem, despreocupado com o trabalho e sem mesmo ligar para as notícias do Alvinegro.

Era uma manhã de domingo, quando deveríamos voltar para casa. O combinado era almoçarmos e partirmos, pois naquela tarde começaria o Brasileiro e tinha jogo do Galo. Por isso, logo cedo começamos a bebedeira na varanda, enquanto a mulheres cuidavam dos tiragostos e do almoço.

À pedido  da esposa do cicerone, travamos uma luta de pega-esconde com um gordo frango do amigo. Era um acinzentado, grande e de pernas enormes. Como a cerveja já me tinha tirado boa parte dos reflexos, dei-me à tarefa de apenas cercar o fugitivo, enquanto os outros tratavam de agarrá-lo.

Como ninguém quisesse matar o coitado do galináceo, lembrando-me da tática usada pelas velhas cozinheiras do Sanharó, ofereci-me para o sacrifício. Peguei-o pelo pescoço e, virando a cara para o lado, dei-lhe umas três voltas no ar, soltando-o em seguida, esperançoso de que não sofresse muito em sua morte.

Eis que para a surpresa de todos, o penoso, com o pescoço dependurado, pôs-se a correr por desabalada carreira, indo pular direto no rio. Ninguém fez menção de pegá-lo. O melhor era mesmo voltar para a varanda e contentarmos com a cerveja e os tiragostos, deixando o pobre frango nadar em paz.

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