AS BATIDAS NO PORTÃO
O copo de cerveja sobre a mesa e a carne assando na churrasqueira. Faz um friozinho bobo já quase no mês de agosto. A piscininha de lona jorra água para todos os lados – é incrível como crianças não se preocupam com o frio. A conversa flui fácil e os sorrisos cortam o ar, chegando a toda a vizinhança.
O som está alto, sobrepondo-se aos barulhos dos carros na avenida. Alguém bate no portão, mas o barulho da música que toca não permite ouvi-lo. As crianças gritam, os homens riem, as mulheres tagarelam a vida alheia, enquanto o cachorro late pedindo um pedaço de carne. Os sons se sobrepõem e já não se entende nada, parece mais uma torre de babel onde o que vale é somente a felicidade etílica que contamina o ambiente.
No portão os bates aumentam. A pessoa parece agoniada, desesperada, quase enlouquecida. Talvez seja uma notícia boa: uma promoção, um nascimento de uma nova vida, alguma congratulação... Mas também pode ser algum mau presságio: a morte de um ente querido, alguma doença ruim; quem sabe seja um sujeito louco por vingança, assim como se vê nos noticiários todos os dias...
Melhor não abrir o portão. Ninguém escuta as suas batidas e os sorrisos aumentam à medida que cresce a quantidade de álcool no sangue. A felicidade aumenta; aumentam as tagarelices das mulheres; as crianças gritam e jogam água para todo lado e o cachorro, já cansado de esperar, recolhe-se à sua casinha quente e acolhedora.
Lá fora, cessam as batidas no portão. Os carros passam em alta velocidade e, sob o som da música e do barulho da gordurinha caindo na brasa aquecida, a notícia- boa ou má- esvaece junto com o friozinho de quase-agosto.
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