quinta-feira, 18 de agosto de 2011

ESCRITOS NA ÁGUA


ESCRITOS NA ÁGUA

O livro de Alcione Araújo está sobre a mesa. Ao seu lado, um copo sem uma gota de café e sobre si um celular que me liga ao mundo. Escritos na água é o nome do livro, o qual, atrevidamente, utilizei para nomear esta Crônica. Faz um bom tempo que me encontro na Capital - se bem que até agora ainda não me tenho encontrado de verdade - e ainda não tenho amigos ou colegas para conversar. Daí o interesse pelos livros e suas conversas, a um só tempo, mudas e pluriformes.
Alcione, num dos seus escritos, responde a um leitor que o indaga sobre o seu modo de agir. O Cronista o responde de modo vago, deixando, assim, várias nuances para que o próprio leitor possa fazer suas colocações, impor o seu ponto de vista, enfim, mostrar que também entende do assunto. De fato, somos todos sabedores de algum conhecimento, embora, nunca saibamos de coisa alguma.
Não me atrevo a meter a colher no modo de viver daquele leitor, nem  do nobre cronista. Por isso, atenho-me somente aos nossos hábitos de querer conhecer de tudo um pouco. Vejamos os nossos técnicos de futebol, sempre ouvindo as cornetadas dos mais intrépidos torcedores. E a senhora Presidenta, tendo que dividir a governança da Nação com outros tantos milhões de presidentes. Aliás, ainda não consegui assimilar o "Presidenta", acho que deveria ser uniforme, em respeito à sabedoria de nosso povo. Que fique "Presidente" e pronto!
Por isso, permaneço na minha humilíssima função de Cronista - ainda que sem jornal e sem apreço - onde sou senhor e rei do que penso e escrevo. Situação em que posso tomar o rumo que bem desejar, fazendo nascer ou morrer o meu mais reles personagem. Doce ilusão a minha, pois nós, os escrevinhadores, nunca somos os donos das letras. Elas é que se fazem por si mesmas, tomando os rumos que bem querem e na hora que mais desejarem; tornando-se, assim, simples seres escritos na água, que vão e voltam sem nos dar a menor satisfação. Incrédulo de que consiga retomar as rédeas de minhas palavras, curvo à sua autoridade gramatical e, perplexo, vejo-las passar de frente os meus olhos, tão encantadoras como a mesma bela mulata desta nobre Corte. 

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