terça-feira, 23 de agosto de 2011

O Q.I. DO TONHÃO

         O ônibus desce a rua em alta velocidade e com gente saindo pelo gargalo. É cedo ainda mas o  sol bate-nos à cara feito uma mãozada de brutamontes, pronto a nos apagar. O brasileiro é mesmo um forte; um amontoado de gente indo para o trabalho, alguns atrasados, outros ainda tomados pelos braços carinhosos de Morfeu; e o motorista acelerando, freando, bagunçando o cabelo da morena de seios fartos e fazendo balançar o vestido curto da mocinha que agarra-se a uma poltrona em que um negão quase ronca de tanto dormir.
          De onde desço até aonde deveria estar existe um caminho longo, o qual faço de forma rápida e pensativa. De cada lado grandes prédios nas superquadras, onde moram apenas pessoas abonadas; e, no seu interior, carros passando em alta velocidade, ora indo para o Plano, ora correndo do plano traçado; um verdadeiro caos em meio a tantas obras faraônicas.  Na confeitaria, em meio aos prédios de onde saem mulheres ricas com seus cachorrinhos feios em busca de ar livre e um lugar para defecar, quatro pessoas esperam a hora da entrevista. 
          Juntamo-nos cordialmente e conversamos, enquanto outros tantos chegam em busca de um emprego; para muitos o primeiro, para outros mais uma busca pela dignidade. As conversas são várias, destacando-se somente o burburinho da esperança e da impaciência, restando-nos apenas a crença de que tudo dará certo, e que um de nós seja realmente o escolhido.
          Uma hora passada e a porta se abre. A porta dos fundos, uma vez que apenas aos clientes é permitida a entrada frontal. Ficamos em fila, como que preparados para uma batalha. Armamo-nos com os Currículos e a ideia do que devemos falar, de como devemos proceder, sonhando com o que nos irá acontecer. De dentro da Confeitaria sai uma mocinha sem graça e olha a multidão que espera - já contamos mais de sessenta esperançosos - volta para dentro do recinto e depois retorna mais sem graça ainda. Em alto e bom som, pergunta:
          - Tonhão? Tem algum Tonhão aí?
          Do final da fila surge Tonhão. Um carequinha, baixinho e gordo, mas com uma grande indicação. Somos todos aniquilados pela força do Q.I : Quem indica. Resta-nos apenas a esperança de que o Tonhão, apesar de tudo, seja muito feliz. Vai ter Q.I assim lá na Confeitaria, Tonhão!

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