MODERNIDADES
Escondido no meio do sertão norte-mineiro, certamente, Seu Pinduca nunca conhecera a internet e suas benfeitorias. Acostumado aos cavalos e pássaros canoros talvez nem tenha ouvido falar ainda de que cientistas já estejam ao ponto de mostrarem ao mundo a roupa da invisibilidade. ou de viajarem pelos tempos futuros. Da primeira e, até agora, última vez que tenho lhe falado, conversamos sobre terra, bichos, sobre a vida e um seu irmão que havia muito não era visto por aquelas bandas. Quem sabe Seu Pinduca já tenha reencontrado o seu parente, mas, estou convicto, não houvera de tê-lo feito através das redes sociais ou outro meio de comunicação.
Esta introdução trata-se apenas de um ensejo para dizer do quanto os tempos estão mudados. Antigamente, andávamos por horas a fio até que pudéssemos encontrar um telefone, onde podíamos, com um monte de fichinhas no bolso, mandar os mais diversos, e rápidos, recados a que fosse de direito. Os mais abonados guardavam em casa, trancado por uma pequenina chave, que não saía da algibeira, um aparelho telefônico, imenso, com uma rodinha na parte superior, de onde se discavam os números pretendidos, enquanto aqueles que não podiam ter os aparelhos, nem comprar fichas, entretinham-se a escrever longas e poéticas cartas manuscritas .
Hoje, conversa-se pelo Celular, internet e outros meios inexplicáveis. De fato, perdeu-se a graça do tempo. Afinal, naquele tempo, os namorados quase não se viam e, por isso, acumulavam a paixão no lugarzinho mais quente do peito para o dia em que se encontrassem; as notícias eram pensadas inúmeras vezes até que pudessem ser repassadas ao interlocutor; os encontros eram momentos festivos e tomados por um prazer indescritível. Hoje tudo são apenas banalidades, nada que perdure mais que o mísero tempo de um olhar.
As notícias correm feito flechas; os amores são corriqueiros e banais e os encontros resumiram-se às redes sociais e às mensagens pelo Celular. Não se cantam mais serenatas para pessoa amada e as cartas e poesias viraram itens de colecionadores, lampejos de um tempo Romântico e piegas. Feliz é o Seu Pinduca, que não possui telefone, internet e nem ao menos escrever sabe. Contenta-se apenas com os cantos dos pássaros, o trote do cavalo e a serenata modesta que o rio lhe faz todas as manhãs nos fundos de sua casa. Que seu irmão apareça, e não lhe dê de presente nenhuma dessas modernidades!
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