terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A LOIRA NO HOSPITAL

     Madrugada e a rua deserta. Uma moreninha, de olhar triste e roupa simples, passa de frente à garagem. Na certa trabalha em casa de alguma família rica, mora numa das favelas próximas e deve ter deixado um ou dois filhos adormecidos. A maior deve ser uma menina, com seus oito anos, e, certamente, cuidará do menorzinho, um moleque, de um mês e pouquinho, até que a mãe volte do serviço. Pensou em dar uma carona até o centro; mas desistiu. E se fosse uma criminosa? Quiçá uma observadora de alguma quadrilha armada? Melhor partir solitário!
     Quase uma hora até encontrar um estacionamento. O Flanelinha pediu  dez reais. Os buracos quebraram uma calota e tornou a desalinhar o carro. Agora, já passando a hora do almoço, nada do médico aparecer. Uma dor intensa na coluna, fruto do futebol de final de semana. Seis meses sem jogar, sem exercícios físicos, sem uma caminhada sequer. Uma bola lançada; um pique de cinco metros e o estralo doloroso nas costelas. Fora um dos primeiros a chegar no consultório, estava faminto, trêmulo, com sono  e nada do homem aparecer. Peguntara na recepção e nenhuma resposta; quisera gritar, brigar, chorar; não teve forças. Ficou quieto no seu canto, cabisbaixo, a espera do doutor.
      Tentava se mexer, dar uma caminhada, esticar o corpo, mas faltavam-lhe as forças. Tinha medo de que lhe travasse a coluna e não conseguisse se mover. Sentado no seu canto, olhava os transeuntes: um velho de cabelos brancos, com uma mocinha do lado, talvez sua neta, filha... ou esposa? Uma mulher gorda comendo um grande sanduíche; uma mulher magra, de meia idade, com quatro filhos; uma escadinha grudada à barra da saia e... de súbito, uma loira... Em pé na outra ponta do salão.
     Fixou os olhos naquela imagem. Era a loira que havia caído de frente à sua loja. Estava com uma roupa branca, talvez um jaleco ou um vestido. Devia ser enfermeira, ou acompanhante. Notou que ao seu lado um velhinho cochilava. Barrigudo, careca e baixinho, assim era aquele homem . O que se via eram duas imagens díspares: um velho decadente e uma loira maravilhosa. Fez menção de levantar-se, ira até a loura, perguntar sobre a queda, se tinha se machucado, se estava melhor. Não foi, ficou a penas a observá-la.
     Ela continuava linda. Esquecera-se do médico, das dores. Apenas olhava a loira e seus olhos lindos, seu corpo maravilhoso, coberto por aquele uniforme branco ( ou seria um vestido ? ). Era mesmo uma bela poesia, uma miragem, um conto de fadas erotizado. E enquanto a observava, seu coração disparava, o suor descia de sua testa e suas pernas tremiam. Resolveu ir ao seu encontro. Respirou fundo, limpou o suor da testa e levantou-se. Sentiu um forte baque nas costas e as vistas escurecerem. Antes de apagar vislumbrou a mais bela miragem que se pode ter, a loira, com os cabelos ao vento, olhava-o com um sorriso nos lábios e parecia flerta-lhe um olhar sensual.
     

Um comentário:

  1. Grande amigo será que o personagem da sua cronica sofreu um enfarto agudo? tamanha a beleza da loira...ou era a própria dona morte esta bela loira.

    cada conto um mistério..

    Parabéns Elismar santos

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