Vi, ontem, o futuro apedrejando o passado. Explico: três crianças apedrejando um velho. Não sabiam aqueles que apedrejavam o seu passado e a base concreta do seu futuro. Observei a cena indignado; o velho xingando os meliantes e eles a apedrejá-lo sem dó, sem piedade, sem pensa de si mesmos. Quisera eu ir junto do velho; resgatá-lo do bombardeio; ajudá-lo a apedrejar os vagabundos. Não fui. Pensei no que me poderia acontecer; temi pelo meu e pelo futuro daquele homem. Fiquei apenas a observá-lo.
Deste ponto sai o escritor. Entra o cidadão. Onde estavam os pais daqueles garotos? Crianças entre dez e doze anos de idade. Educação vem de berço, de casa, de dentro de nossos lares. Perdoemos as crianças, elas não sabem o que fazem, nada mais são do que modelos de um sistema falido, de exemplos que veem do habitat em que vivem. Castiguemos os pais, com nossa ira, nosso desprezo, nossa pena.
O velho foi embora e as crianças ficaram, tagarelando besteiras, palavras chulas, fúteis e rindo do pobre homem que descia a rua cambaleando. Eu, trancafiado dentro de mim mesmo, fechei o portão e calei-me. Calei-me de raiva, não daquelas crianças tolas; mas dos seus progenitores fúteis e obsoletos. Homens e mulheres sem qualquer capacidade de procriarem, que colocam os filhos no mundo para que a sociedade crie. Não são aqueles moleques culpados de crime algum. São vítimas de uma sociedade triste, hipócrita e sem qualquer visão de futuro.
São aqueles o futuro de nosso país, de nosso planeta. Seres incapazes de pensar, de cultivarem sentimentos. Pobre animais movidos por maus exemplos e pensamentos putrefeitos. Pobre do nosso país, do nosso planeta. Pobre do nosso futuro!
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