SAUDADES
DO ARNALDO, E SUA ESPOSA
Ainda não tive
lembranças do Arnaldo. Ontem me dispus a procurá-lo novamente, mas não o
encontrei. Andei por toda a redondeza, fui até a sua casa; procurei por sua
esposa... Nada, ambos desapareceram. Começo a preocupar pela esposa. E se o
homem, enlouquecido tiver seqüestrado? E se tiver matado a pobre coitada!?
Os pensamentos
vêem a minha cabeça. Pensei procurar a polícia, mas não tive coragem. Pensei na
hipótese da mulher o ter matado; não sei se teria coragem de incriminá-la.
Melhor esperar; em algum momento um ou outro há de aparecer. As notícias
correm. Sempre chega um com alguma nova informação; já me disseram que haviam
encontrado o corpo de uma mulher pelos lados do São Crispim e que,
provavelmente, seria o corpo da esposa do Arnaldo. Chegou-se ao ponto de um
afirmar que o miserável matara a mulher e depois se jogara no rio, deixando-se
levar por suas águas caudalosas...
Outrora,
disseram que a esposa matara o pobre homem. Que enterrara o corpo numa vala
rasa, próxima ao açude, onde é possível avistar um bando de urubus sobrevoando em roda. A mulher teria ido
embora para o Rio de Janeiro, de carona com um viajante por quem houvera se
apaixonado...
Um terceiro
viera me confidenciar que vira ambos em Bom Jesus da Lapa. O Arnaldo envergando um terno
escuro e a mulher com o braço colado ao seu. Disse ter dialogado com o homem
que, todo sorridente, teria afirmado, categórico, que iriam, os dois, morar em
Ilhéus, trabalhando numa fazenda de cacau.
Recuso-me a
acreditar em qualquer versão que me chegue aos ouvidos. Prefiro continuar no
meu banquinho a espera de que o Arnaldo apareça no fim da rua, com sua esposa
do lado, toda linda, vestida numa blusa decotada e uma saia bastante apertada,
com os cabelos negros e encaracolados, sempre com o seu olhar de Capitu. Não
quero a morte do meu amigo; não quero a distância de sua adorável esposa. Quero
que a vida continue como antes, com seus passos vagarosos e sua preguiça
deliciosa.
Penso
diuturnamente no Arnaldo e em sua bela esposa. Preocupo-me em encontra-los. Mas
não tenho mais forças nem opções para procurá-los. Sento-me no meu velho banco ao amanhecer,
tiro do embornal um maço de palhas secas, o rolo de fumo, o velho canivete e
começo a prepara o meu cigarro; depois, acendo-o com a velha binga e, enquanto saboreio o doce amargo de
seu pito, olho distraído para o final da rua, a espera que ambos apareçam,
Arnaldo e sua linda e majestosa esposa.
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