BAÚ DE SAUDADES
Mário Quintana, um grande poeta gaúcho, escreveu, em
última hora, um livro denominado Baú de Espantos. Versava sobre a vida, seus
encantamentos e, principalmente, sobre o seu desassossego ante a vida e suas
intermináveis surpresas. Por isso, talvez, fizera versos encantadores, ao mesmo
tempo incrédulos e esperançosos, numa eterna contradição. Mas, quem somos nós
para falarmos de contradição; seres tão paradoxais, contraditórios, seres
tomados de pura poesia.
Minhas Crônicas não têm a pretensão de um Quintana. Querem
apenas recontar a vida, do meu modo, da maneira que a vejo e vivo. Minhas
Crônicas pretendem apenas retratar os sentimentos, os encantamentos, as
saudades do meu peito. Saudades que se fazem em forma de poesia, de lágrimas, de
sorrisos, em forma de palavras desconexas, despudoradas; palavras jogadas
bruscamente ao léu, ao deus-dará, aos ventos do destino.
O poeta construía o seu texto durante todo o dia;
labutando, esmerando as palavras e os sentimentos, como se fosse um ourives a
trabalhar a mais fina aliança; não entre pessoas, mas um elo entre o homem e o
seu sentimento, o pecado e a pureza, a vida e a morte. Eu, por preguiça ou pela
pressa de me expressar, não trabalho, não expresso, apenas escrevo, toscamente,
e deixo que as palavras se organizem por si mesmas, como se já estivessem
prontas, acabadas, amadurecidas pela vida.
Ele sofre para parir e depois guarda cada uma de suas
crias dentro de um grande baú de espantos. Eu não sofro, não trabalho; apenas
escrevo-as e jogo dentro do meu baú, uma redoma fria e tétrica, onde não há
esperança, encantamento ou surpresas, apenas um baú de saudades; tomado por
rememoranças de tempos idos, onde tudo era igual o presente, mas que, tolo,
insisto em pintar paradisíaco, numa eterna nostalgia.
Pobre poeta e seu baú de surpresas. Não sabe ele que a
vida nada mais é que apenas uma interminável repetição, um grande caminho que circundamos
sempre na esperança de que algum dia o destino mude e alguma surpresa aconteça
de verdade. Nada acontece e, então, olhamos para trás, com a vazia sensação de
que tudo poderia ser diferente. Ledo engano!
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