DRAMAS
DA VIDA
O sol já ia alto quando
ela acordou. Levantou-se, preparou o café, escovou os dentes e saiu. O marido
continuava dormindo, cheirando a cachaça. Não tinham filhos, embora já fossem
casados há mais de cinco anos. Ele era louco, mas ela não queria; não sabia se
era aquilo que sonhava para a sua vida.
A patroa viera abrir o
portão. Estava de cara amarrada e não lhe dissera qualquer palavra. Não se
importou; já estava acostumada com os chiliques da mulher que sempre estava às
turras com o marido. Aquele que era homem: alto, bonito, rico e educado. A
mulher é que não prestava, nunca lhe dera valor e queria apenas o seu dinheiro.
Ele já tina saído para
o trabalho. Era dono de uma empresa de caminhões e, pelo que ouvia nas
conversas do casal, tinha três ou quatro casas alugadas. Não dava muita
conversa para ela, mas quando lhe dirigia a palavra, fazia com respeito, com
tanta educação que até a envergonhava. Sentia-se acuada perto daquele homem.
Durante todo o dia ele
não aparecera. A mulher não lhe dissera qualquer palavra. Talvez estivessem
separados; ele talvez tivesse ido embora, cansado de tanto sofrimento. Era o
melhor que tinha para fazer e, um dia, também ela haveria de criar coragem e
sair de casa. Deixaria o marido em casa e iria correr o mundo, sem nem olhar
para trás.
A tarde chegou sem que
o marido voltasse para casa. Ela foi embora sem ver o patrão e a esposa juntos.
A mulher, durante todo o dia, não lhe dissera nenhuma palavra. Mostrava-se
arredia, intranqüila, nervosa com alguma coisa. Não dissera nada também; o
melhor era ficar no seu canto, fazer a sua tarefa em silêncio.
O homem não estava em
casa, devia estar em algum boteco, já enchendo a cara. Chegaria bêbado,
arrumaria alguma confusão, daria uns tapas nela e iria dormir. Era sempre
assim. Fez o jantar, lavou as vasilhas e ligou a televisão; queria mais era
descansar, não pensar em nada.
Estava passando o
jornal e sua patroa era a manchete. Aumentou o volume; os policiais mais
pareciam formiguinhas andando de um lado para outro. Alguns homens traziam um
corpo coberto por um lençol branco; a
mulher saía algemada, com o rosto encoberto. Na certa viriam ao seu
encontro; teria que prestar depoimento; pensariam que ela tinha alguma coisa a
ver com tudo aquilo.
Ficou tensa. Desligou a
TV. Não jantou, nem escovou os dentes. Pegou algumas poucas roupas, colocou-as
numa mala e saiu porta à fora. Não olhou para trás, nem trancou a porta. No
boteco, o marido bebia e sonhava, sonhava com um lindo menino a correr pela
casa, enquanto a mulher preparava o jantar e o cheiro subia pelas paredes
daquele lar abençoado.
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