quarta-feira, 11 de abril de 2012

O CRAQUE DO TIME

O CRAQUE DO TIME


Algumas coisas intrigam, e sempre intrigarão, os homens. E encaixo esta palavra aqui como, de acordo com o meu amigo Aurélio, “ato de causar intriga”. Dentre estas coisas estão a religião, a política e o futebol.
Tenho alguns amigos que se inimizaram com outros por causa de algumas destas três instituições; igual àquele que brigou com o melhor parceiro de truco porque o outro era argentino e cismava sempre que o Maradona era melhor que Pelé. Convenhamos, nem se teria começado a discussão se ambos tivessem visto o futebol do Getulinho. Aquilo é que era jogador!
Getulinho era filho de Dona Maguianor e de Seu Jordelino. O moleque não era alto nem forte; não tinha o cabelo espetado nem usava brinco na orelha; não jogava em qualquer time grande nem tinha empresário. Getulinho era um dos nossos. Era o nosso camisa 10. O craque do time.
Muitas foram as vezes em que o craque pegava a bola no meio do campo; passava por dois, driblava o terceiro, dava uma caneta no zagueiro, um lençol no goleiro e corria pra galera. Mas não servia apenas de goleador; dava passe de letra, de calcanhar, de cabeça, assistia a maioria dos gols do nosso time. É verdade, era o Getulinho quem mandava e desmandava nas quatro linhas.
O problema é que ele nunca sonhara em ser jogador de futebol. O cara queria mesmo era ficar rico. Sua família era pobre, o pai era lavrador e a mão lavava roupas para fora. O único filho era ele, por isso tinha que ajudar em casa. Trabalhava das sete da matina até às seis da tarde e, só depois, já cansado, é que ia para o campo conosco.
Aos domingos ia à igreja de manhãzinha e às segundas ia à câmara, na hora do almoço, assistir a uma parte da sessão plenária. Pegou amizade com um político da ala religiosa e largou o futebol. Partiu para a política, virou religioso e deixou o futebol de lado. Hoje está rico e temeroso a Deus. Nós perdemos o nosso maior craque e, por falta dele, o time chegou ao fim. Ainda tentaram me colocar em seu lugar. Mas faltava fé, diplomacia, faltava o peso da camisa 10, o talento do Getulinho.

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