A MENINA
DESCENDO A RUA
A menina
descia a rua lentamente. Ora olhando para um lado, ora para cima ou
para baixo. Quase nunca olhava para frente. Não que tivesse
algum problema, mas porque estivesse distraída. Assim são
as meninas de quinze anos, todas distraídas, lentas, meio
bobinhas e, de verdade, muito bonitinhas.
Aquela era
uma menina bonita. Vestia um vestido curto, deixando as coxas à
mostra; calçava uma sandália trançadinha e tinha
os cabelos negros e bastante lisos, feito fosse cabelo de índia.
Não tinha namorado, mas já havia se apaixonado por
vários homens mais velhos. Apaixonara-se, mas somente isso. ìa
às missas no domingo e cursava a 8 série do
fundamental.
A rua
era íngreme e o passeio minúsculo. Por isso, a menina
tinha que desviar dos outros passantes, dos postes, das cadeiras e
mesas, dos cachorros que subiam a rua. Não seguia pra casa;
talvez fosse à padaria ou ao armazém. Sua casa ficava
logo acima e de era de lá que havia saído há
alguns instantes.
Sentado
numa das mesas das quais ela havia desviado, eu observava o desfile
da menina, com o copo de cerveja pela metade e a cabeça cheia
de idéias, de pensamentos, de sonhos. Ela não
observara, mas enquanto ela descia a rua, vários olhares a
acompanhavam e uma crônica pueril nascia em meu âmago.
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