sexta-feira, 13 de abril de 2012

O POLITICAMENTE CORRETO

O POLITICAMENTE CORRETO



As palavras na ponta da língua e eu me segurando para não falar! A vida tem mesmo destas coisas; às vezes a gente ta doido pra soltar os cachorros, meter a língua... Falar tudo o que tá preso na garganta. Mas aí vem um tal de politicamente correto e a gente é obrigado a se calar.
Não fosse o politicamente correto e eu já teria dito umas e outras. Já tinha falado de política, metido o pau nas mulheres, escancarado os podres da religião, contado tudo para todo mundo ouvir. Mas não posso, minha correição não deixa.
Enquanto isso, as pessoas falam mal de mim pelas costas; minhas amigas me traem; meu chefe me ferra; minha vida desanda. Ontem mesmo fomos numa festa: eu, minha amiga e o namorado dela. Ah, se vocês soubessem o que aconteceu, meu Pai do Céu!... Eu queria falar, mas não posso, seria o fim daquela periguete!
É meu dever confessar. Mas não gosto de confessionário. A religião, aliás, é uma coisa daquelas que nem posso ouvir falar! Me cansa ouvir o padre sempre com a mesma ladainha, os mesmos pedidos, as mesmas súplicas. Ai, meu Deus, que tédio!
Política, então, aff! Os políticos sempre roubando, falando mentiras, enganando... Eu não agüento! Se pudesse, mandava todos eles para... É. Para aquele lugar mesmo. Mas não posso, o politicamente correto não deixa. Aliás, esse cara está sempre no meu encalço. Meu chefe sempre me lembra dele; a patroa também e agora até o meu psicólogo me veio com essa ideia de que o meu palavreado não é politicamente correto.
Sabe de uma coisa. Qualquer dia desses, eu mando o politicamente correto para a casa do borralho e vou viver a minha vida. Daí, falo mal do chefe, meto o ferro nas mulheres, dou banana pros políticos, esqueço a religião! Mas, por enquanto, vou fazer o almoço, que a patroa já tá reclamando e o chefe já está chegando do trabalho. E não posso esquecer de ligar o rádio; agora tem a missa e depois o pronunciamento da presidente.


 

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