O
POLITICAMENTE CORRETO
As palavras na ponta da língua e eu me segurando para
não falar! A vida tem mesmo destas coisas; às vezes a gente ta doido pra soltar
os cachorros, meter a língua... Falar tudo o que tá preso na garganta. Mas aí vem
um tal de politicamente correto e a
gente é obrigado a se calar.
Não fosse o politicamente
correto e eu já teria dito umas e outras. Já tinha falado de política,
metido o pau nas mulheres, escancarado os podres da religião, contado tudo para
todo mundo ouvir. Mas não posso, minha correição não deixa.
Enquanto isso, as pessoas falam mal de mim pelas
costas; minhas amigas me traem; meu chefe me ferra; minha vida desanda. Ontem
mesmo fomos numa festa: eu, minha amiga e o namorado dela. Ah, se vocês soubessem
o que aconteceu, meu Pai do Céu!... Eu queria falar, mas não posso, seria o fim
daquela periguete!
É meu dever confessar. Mas não gosto de
confessionário. A religião, aliás, é uma coisa daquelas que nem posso ouvir
falar! Me cansa ouvir o padre sempre com a mesma ladainha, os mesmos pedidos,
as mesmas súplicas. Ai, meu Deus, que tédio!
Política, então, aff! Os políticos sempre roubando,
falando mentiras, enganando... Eu não agüento! Se pudesse, mandava todos eles
para... É. Para aquele lugar mesmo. Mas não posso, o politicamente correto não deixa. Aliás, esse cara está sempre no
meu encalço. Meu chefe sempre me lembra dele; a patroa também e agora até o meu
psicólogo me veio com essa ideia de que o meu palavreado não é politicamente correto.
Sabe de uma coisa. Qualquer dia desses, eu mando o politicamente correto para a casa do
borralho e vou viver a minha vida. Daí, falo mal do chefe, meto o ferro nas
mulheres, dou banana pros políticos, esqueço a religião! Mas, por enquanto, vou
fazer o almoço, que a patroa já tá reclamando e o chefe já está chegando do
trabalho. E não posso esquecer de ligar o rádio; agora tem a missa e depois o
pronunciamento da presidente.
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