segunda-feira, 16 de abril de 2012

PLENA INSPIRAÇÃO (Texto 200)


PLENA INSPIRAÇÃO



O poeta tirava de cada palavra um sentimento único. Uma hora extraía uma paixão avassaladora, capaz de jogar ao chão até mesmo o mais seco de todos os homens. Noutras, tirava uma dor profunda ou mesmo uma alegria incomensurável. E, por isso, era ele exaltado por todos os leitores daquelas plagas.
Mais eis que um dia lhe faltou a inspiração. Não sabia sobre o que escrever; não sentia nenhuma dor profunda, nenhuma paixão avassaladora e nem mesmo sofrera qualquer incontível alegria sobre a qual pudesse descrever. Estava em um momento de paz e isso, ironicamente, o deixava às escuras em suas escritas.
Ponderou sobre as novelas, mas logo viu que não tinha jeito para tanta enrolação. Os Romances causavam-lhe um tédio tremendo e, além do mais, eram coisas de mulher que não tinham o que fazer. Gostava mesmo era de poesias. Textos rápidos e profundos, que exigiam de seus leitores perspicácia e sentimentalismo!
Talvez se lhe surgisse um grande amor pudesse retomar as antigas inspirações! Resolveu, portanto, perambular pelas ruas em busca de sua amada recolhida em uma câmara escura e friorenta. Haveria de salvá-la das garras de um cruel senhorio e transportá-la, em seu cavalo braço, para o mais lindo castelo, onde seriam felizes para sempre.
Pobre coitado! Não tinha castelo e nem ao menos um muar. Não existiam mais princesas recolhidas e os senhorios haviam todos se transformado em políticos. Não tinha mais jeito, a velha poesia, certamente, haveria de ter desaparecido por completo.
Entristecido e sem esperanças, sentou-se à beira de um rio todo poluído. Pôs-se a pensar na vida e seus desencantos, quando eis que passa uma linda mulher, toda coberta por um vestido avermelhado, com os cabelos loiros e uma intensa paixão nos olhos. Não era a sua amada, mas sim o ponto de partida para um novo texto, quiçá uma poesia.
Não era uma poesia clássica. Tratava-se de um prosa, tomada por tamanha vivacidade, que até mesmo os mais sádicos dos críticos acreditaram tratar-se de uma grande poesia. Não era, absolutamente, não haveria de ser. Tudo aquilo era somente uma Crônica que brotava de uma simples paixão e transformava-se em duzentas páginas de emoção. Esta que o poeta faria questão de transmitir aos amigos, como fonte de inspiração!

Um comentário:

  1. omo dizia a musica:
    ♫♫ O poeta não morreu
    Foi ao inferno e voltou
    Conheceu os jardins do Éden
    E nos contou...♫♫

    @reatoheloni
    Renato Cheloi

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