PLENA
INSPIRAÇÃO
O poeta tirava de cada palavra um sentimento único. Uma hora extraía uma
paixão avassaladora, capaz de jogar ao chão até mesmo o mais seco de todos os
homens. Noutras, tirava uma dor profunda ou mesmo uma alegria incomensurável.
E, por isso, era ele exaltado por todos os leitores daquelas plagas.
Mais eis que um dia lhe faltou a inspiração. Não sabia sobre o que
escrever; não sentia nenhuma dor profunda, nenhuma paixão avassaladora e nem
mesmo sofrera qualquer incontível alegria sobre a qual pudesse descrever.
Estava em um momento de paz e isso, ironicamente, o deixava às escuras em suas
escritas.
Ponderou sobre as novelas, mas logo viu que não tinha jeito para tanta
enrolação. Os Romances causavam-lhe um tédio tremendo e, além do mais, eram
coisas de mulher que não tinham o que fazer. Gostava mesmo era de poesias.
Textos rápidos e profundos, que exigiam de seus leitores perspicácia e
sentimentalismo!
Talvez se lhe surgisse um grande amor pudesse retomar as antigas
inspirações! Resolveu, portanto, perambular pelas ruas em busca de sua amada
recolhida em uma câmara escura e friorenta. Haveria de salvá-la das garras de
um cruel senhorio e transportá-la, em seu cavalo braço, para o mais lindo
castelo, onde seriam felizes para sempre.
Pobre coitado! Não tinha castelo e nem ao menos um muar. Não existiam
mais princesas recolhidas e os senhorios haviam todos se transformado em políticos. Não
tinha mais jeito, a velha poesia, certamente, haveria de ter desaparecido por
completo.
Entristecido e sem esperanças, sentou-se à beira de um rio todo poluído.
Pôs-se a pensar na vida e seus desencantos, quando eis que passa uma linda
mulher, toda coberta por um vestido avermelhado, com os cabelos loiros e uma
intensa paixão nos olhos. Não era a sua amada, mas sim o ponto de partida para
um novo texto, quiçá uma poesia.
Não era uma poesia clássica. Tratava-se de um prosa, tomada por tamanha
vivacidade, que até mesmo os mais sádicos dos críticos acreditaram tratar-se de
uma grande poesia. Não era, absolutamente, não haveria de ser. Tudo aquilo era
somente uma Crônica que brotava de uma simples paixão e transformava-se em
duzentas páginas de emoção. Esta que o poeta faria questão de transmitir aos
amigos, como fonte de inspiração!
omo dizia a musica:
ResponderExcluir♫♫ O poeta não morreu
Foi ao inferno e voltou
Conheceu os jardins do Éden
E nos contou...♫♫
@reatoheloni
Renato Cheloi