UMA
CRÔNICA DE REFLEXÃO
Hoje é Domingo de Ramos,
início da Semana Santa; também é 1º de Abril, dia da Mentira, onde muitos
indivíduos sobressaem. Mesmo na minha rua têm muitos desses destacados de hoje.
Não obstante, é esta uma semana triste, sem muitos atrativos, um momento de
pararmos e refletirmos sobre as razões da vida, de onde viemos, para onde vamos
e quem somos.
A verdade é que poucos
são os que pensam religiosidades nesta semana. A maioria dos brasileiros está
mais preocupada com os ovos de páscoa; seu preço, onde está mais barato e qual
é o de melhor qualidade. Ovos, aliás, que, em muitas mesas, estão sendo
trocados por meras caixinhas de bombons, pois, segundo dizem, o que mais
importa é a lembrança deste tempo de ressurreição.
Ainda sobre a Semana
Santa, minha filha, de supetão, me fez uma pergunta que desde muito jovem eu me
faço: Por que os velhos é que vão à missa? Não soube o que dizer. Falei que os
jovens também precisam rezar, e desconversei. A verdade é que também já pus
reparo na questão, mas ainda não sei a resposta.
Todos os domingos de
manhã, pego minha magrela e vou à padaria comprar pães para o café, enquanto
toda a família ainda dorme. Passo em frente à igrejinha e vejo vários fiéis a
rezar, em sua imensa maioria, senhores e senhoras, com os cabelos brancos e os
ossos gastos. E eis que na missa da noite é sempre a mesma coisa. Os velhos
rezam, enquanto os jovens dão várias voltas em torno da igreja Matriz ou sobem
abraçados, tagarelando, até o morro de Lourdes.
Na igreja, com todos os
ventiladores ligados, o padre prega o Evangelho, fala sobre a necessidade de se
doar o Dízimo e pede que cada fiel procure levar um amigo para a próxima missa,
no domingo seguinte. Ouço atento as suas palavras enquanto vejo um casalzinho
que namora sentado no banquinho debaixo da grande árvore, ao lado da igreja.
Tenho vontade de me levantar; ir para junto deles, chamá-los para a casa do
Pai. Melhor não, o padre não ia gostar de me ver saindo no meio da pregação.
Enquanto rezo, o
casalzinho se abraça e se beija. Não os repreendo; a vida é curta e devemos
curti-la sem piedade. Mas podiam esperar pelo menos o término da missa, a
bênção do padre, receberem a proteção do Pai. À minha frente duas velhinhas
rezam fervorosamente e uma delas já está quase ao ponto chorar. Depois, saímos
todos juntos. O casalzinho já não está mais no banco, talvez tenham ido para um
lugar mais sossegado.
Enquanto vamos embora, escuto a conversa das duas velhinhas que rezavam. Uma fala sobre as saias curtas usadas pelas companheiras de banco e os sapatos todos sujos de poeira. A outra se lembra dos tempos de juventude, quando namorava à porta da igreja, igual ao casalzinho debaixo da árvore. E afirma com veemência, jurando que não é mentira.
Bom d ++
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