domingo, 1 de abril de 2012

UMA CRONICA DE REFLEXÃO


UMA CRÔNICA DE REFLEXÃO



Hoje é Domingo de Ramos, início da Semana Santa; também é 1º de Abril, dia da Mentira, onde muitos indivíduos sobressaem. Mesmo na minha rua têm muitos desses destacados de hoje. Não obstante, é esta uma semana triste, sem muitos atrativos, um momento de pararmos e refletirmos sobre as razões da vida, de onde viemos, para onde vamos e quem somos.
A verdade é que poucos são os que pensam religiosidades nesta semana. A maioria dos brasileiros está mais preocupada com os ovos de páscoa; seu preço, onde está mais barato e qual é o de melhor qualidade. Ovos, aliás, que, em muitas mesas, estão sendo trocados por meras caixinhas de bombons, pois, segundo dizem, o que mais importa é a lembrança deste tempo de ressurreição.
Ainda sobre a Semana Santa, minha filha, de supetão, me fez uma pergunta que desde muito jovem eu me faço: Por que os velhos é que vão à missa? Não soube o que dizer. Falei que os jovens também precisam rezar, e desconversei. A verdade é que também já pus reparo na questão, mas ainda não sei a resposta.
Todos os domingos de manhã, pego minha magrela e vou à padaria comprar pães para o café, enquanto toda a família ainda dorme. Passo em frente à igrejinha e vejo vários fiéis a rezar, em sua imensa maioria, senhores e senhoras, com os cabelos brancos e os ossos gastos. E eis que na missa da noite é sempre a mesma coisa. Os velhos rezam, enquanto os jovens dão várias voltas em torno da igreja Matriz ou sobem abraçados, tagarelando, até o morro de Lourdes.
Na igreja, com todos os ventiladores ligados, o padre prega o Evangelho, fala sobre a necessidade de se doar o Dízimo e pede que cada fiel procure levar um amigo para a próxima missa, no domingo seguinte. Ouço atento as suas palavras enquanto vejo um casalzinho que namora sentado no banquinho debaixo da grande árvore, ao lado da igreja. Tenho vontade de me levantar; ir para junto deles, chamá-los para a casa do Pai. Melhor não, o padre não ia gostar de me ver saindo no meio da pregação.
Enquanto rezo, o casalzinho se abraça e se beija. Não os repreendo; a vida é curta e devemos curti-la sem piedade. Mas podiam esperar pelo menos o término da missa, a bênção do padre, receberem a proteção do Pai. À minha frente duas velhinhas rezam fervorosamente e uma delas já está quase ao ponto chorar. Depois, saímos todos juntos. O casalzinho já não está mais no banco, talvez tenham ido para um lugar mais sossegado.
Enquanto vamos embora, escuto a conversa das duas velhinhas que rezavam. Uma fala sobre as saias curtas usadas pelas companheiras de banco e os sapatos todos sujos de poeira. A outra se lembra dos tempos de juventude, quando namorava à porta da igreja, igual ao casalzinho debaixo da árvore. E afirma com veemência, jurando que não é mentira.  



Um comentário: