RÁDIO-LEMBRANÇAS
@ElismarSantos
As
lembranças surgem do nada, feito os pássaros que chegam
à minha janela sempre à espera de alguma migalha de
pão. Bateu-me, por estes dias, uma grande saudade dos tempos
em que trabalhava como locutor de rádio, o chamado
“Locutor-anunciador”.
Viajava
à Montes Claros, diariamente, para a faculdade; chegava à
meia -noite e no outro dia já devia estar de pé às
cinco da matina, a programação começava às
seis em ponto. Era cansativo, não há dúvida, mas
era muito legal. Era bom saber que milhares de pessoas acordavam e já
se punham a ouvir o meu “Bom dia!”; era bom receber os
telefonemas com pedidos, reclamações, com pessoas a fim
de papear.
Destas
lembranças veio o fato mais curioso: o meu primeiro teste,
ainda na Central FM, rádio clandestina e pequenina, se deu com
uma nota de falecimento. Isto mesmo, da tristeza de uma família,
com a morte de um ente querido, nascia a minha carreira de
locutor-anunciador.
Na
Central não havia salário, apenas o que se ganhava com
as propagandas, que eram mínimas. Depois, veio a Antena 100;
rádio de oposição ao prefeito. Nesta ganhava
menos de um salário e complementava com algumas poucas
propagandas. Eram tempos de quase nenhuma grana, mas de muita
diversão. Felicidades espontâneas que brotavam da
garganta de um adolescente.
Por
fim, eis que surge a 106, 7 FM. Rádio grande, legalizada,
abrangendo toda a cidade e regiões vizinhas; uma potência
regional. Fiz o teste e fui aprovado. Fiquei na casa por mais de ano,
voltando depois mais duas vezes. Tempos bons, tempos áureos.
Coisas inesquecíveis que se resumem a uma mera gravação
que tenho em casa e, por caso, me pus a escutar num dia desses, o
teste que fiz no pequeno estúdio de gravações.
Assim
como os pássaros as lembranças vieram; apossaram-se do
meu peito e transformaram-se em palavras. Signos ainda emudecidos,
verdes, esperando pelo instante em que a luzinha se acenda e os
microfones novamente se abram para, de novo, ecoaram pelas ondas do
rádio!
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