segunda-feira, 17 de março de 2014

O POETA

A pior parte de ser poeta não são os pedidos de poesia ou as dúvidas quanto à veracidade dos versos. Também não é nenhum precipício as pessoas ficarem olhando para a gente como se os poetas fôssemos seres de outro mundo, dotados de inteligência incomum; capazes de fazer um poema a qualquer hora do dia. Embora não sejamos nada disso. A poesia é uma inspiração; às vezes fico assentado de frente o papel por toda uma manhã e não escrevo bulhufas; noutras; tenho que parar a moto a um canto da estrada para anotar um verso, ou toda uma poesia... O pior é ter que lidar consigo mesmo.

Falo por mim, poeta mínimo e sem maiores conhecimentos da causa; mas, acredito que também seja assim com a maioria dos poetas, iniciados ou veteranos: pensamos, sonhamos, divagamos demais. A verdade é que minha mente parece quase que um turbilhão de idéias, ainda que, na maioria dos casos, quase não as coloque em prática, lapido-as, redijo-as mentalmente,ou, simplesmente, deixo-as quietinhas a um canto da cachola.

As lembranças são várias. A mais remota, dos tempos de infância, leva-me ao quatro anos de idade, quando ia com meu pai ao boteco do Fabiano; quando brincava de revolverzinho de esguichar jatos d’água e quando tiramos a foto do quadro, no Fred’s bar, ainda do Seu Florentino. E estas lembranças me fazem nostálgico e faz pensar o quanto a felicidade passa rápido em nossas vidas, restando-nos apenas a realidade.

Mas também vêm as más recordações, dos momentos ruins, das perdas e suas sensações. Lembro-me da vizinha que encontrei morta sobre a sua cama, de braços abertos e olhos fechados; do velório do meu avô e do meu tio, no mesmo dia, na mesma casa, com minha avó chorando em meio aos dois. Recordo-me dos amigos que se foram, ainda jovens, ainda muito cedo; dos amores que não eram, nunca foram, e, ainda assim, perderam-se pelo caminho.


E, de lembrança em lembrança, sobre cada recordação, o poeta vai construindo a sua poesia, montando o seu dia, desvendando as nuances do seu futuro. A cabeça, um turbilhão de emoções e pensamentos, deixa-se guiar pelo coração, como se a razão fosse apenas um mero detalhe, quase que insignificante, e, eis que, então, brotam-se as poesias, feito belas flores nalgum jardim perdido em nossa alma, do nada. Do nada.  

Um comentário:

  1. Meu caro prof. com toda razão, de 40 anos de poeta, com mais de 300 poemas, faça a conta como demorou em escrever tão pouco em tantos anos, A verdade tua palavra, parabéns prof. e amigo.

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