terça-feira, 18 de março de 2014

SEPARAÇÃO

Depois de vinte e cinco anos de casados, resolveram se separar.  Não que houvesse traição ou desavenças; simplesmente, não tinha mais razão de ser. Os filhos já estavam todos criados; ela era uma mulher independente, advogada de mão cheia, quase empossada no cargo de juiz substituto em São Paulo. Ele, empresário forte em BH, dono de uma grande rede de restaurantes. Que cada um tivesse a sua vida e ponto.

Ficou resolvido que os filhos ficariam com a mãe, como lhe é de direito, embora ela não fizesse questão; afinal, eles poderiam atrapalhar o seu crescimento profissional. Os carros seriam divididos: dois para cada um. Ele, apaixonado por trilhas e fazenda, ficara com os maiores, os brutos, como ele dizia. Ela ficara com os esportivos e a casa de praia. As duas fazendas ficara com ele, enquanto ela herdara o apartamento de Sampa.

Não precisaram de advogados ou audiências judiciais. Resolveram tudo como duas pessoas civilizadas; sendo que as únicas desavenças surgiram quando foram dividir os cachorros. Eram três os bichinhos. Não havia como dividi-los ao meio. Resolveu-se, então, que o melhor seria levá-los ao canil. Que cada um comprasse o seu animalzinho. De resto, tudo tranqüilo. Ninguém queria o que não lhe fosse de direito.

Tudo resolvido, era chegada a hora da despedida. As crianças já haviam chegado da escola e acabavam de arrumar as malas, em seus quartos, no terceiro andar da mansão. O casal subiu para a suíte e amou-se como se fosse a primeira vez, com todo o amor que sentiram da primeira vez; com todo o prazer que lhes correra pelo corpo, quando ainda eram adolescentes. E tudo aquilo parecia que duraria por mais uma eternidade. Depois, já na porta da mansão, apertaram as mãos, quase que profissionalmente; cada um entrou no seu respectivo carro, e, tudo estava terminado.

4 comentários:

  1. São situações de difícil comentário, pois, não era uma família pobre e fazer uma comparação com pessoas ignorantes e pobres, fica mito difícil! Prefiro apelar para o temor de Deus!

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  2. Triste, se amaram como no inicio, acredito que talvez existisse amor entre eles..Acho que poderia ter tentado mais uma vez..

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  3. Triste, se amaram como no inicio, acredito que talvez existisse amor entre eles..Acho que poderia ter tentado mais uma vez..

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  4. Amor com data para início e fim. Sofrimento comedido e emoções seguramente controladas. Nada tão pouco humano. Belo texto! Luciana Jory

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