A Crônica é mesmo uma graça. Às vezes queremos
escrever, mas a ideia não vem; enquanto, outroras, não queremos e ela bate à
nossa porta. Algumas vezes ficamos por horas sentados de frente o computador,
matutando palavras, desvendando segredos, e ela não vem. Mas, às vezes, no meio
de uma madrugada fria, ela chega, entra na cabeça e não sai. A Crônica é mesmo
uma menina traiçoeira.
Quando nos apaixonamos tudo piora. São duas irmãs que
sempre chegam. Primeiro a poesia, com suas palavras melosas, melódicas, cheias
de êxtase. Depois, vem a Crônica, contando lorotas, anedotas, mentiras cheias
de saudades e romances. E nunca faltam. Chegam em silêncio, entraram devagarzinho
e acomodam-se bem dentro do peito.
Mas, quando estamos limpos, desnudos de amores ou
paixões, nunca que aparecem. Podes chamar, o quanto quiseres, e elas não viram.
Por isso, às vezes deixo de ser poeta ou cronista, e passo aos trabalhos mais
práticos, como trabalhos escolares e locuções. Às vezes fico desempregado das
letras e fio-me em algumas garrafas de vinho, que é para esquentar o frio da
alma.
Mas eis que um dia, numa noite fria qualquer, a
poesia reaparece em meu quarto. Entra pela janela entreaberta e aconchega-se
dentro de minha alma. Sinto arrepios, calafrios, e entrego-me novamente em seu
poder. A Crônica chega depois, feito a irmãzinha tímida, cheia de não-me-toques
e mal-me-queres; mas vai me envolvendo devagarzinho e, quando vejo, já me
encontro aninhado no seu regaço. São duas irmãs traiçoeiras, que sempre chegam,
e se achegam.
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