segunda-feira, 26 de maio de 2014

JOAQUINZÃO

Não há quem não conheça o Joaquinzão, com seu andar encurvado, seu chapéu, e o eterno embornal do lado. Arrastando a perna, vai andando por toda a cidade, olhando as meninas, cumprimentando os homens, espantando os cachorros, com seu velho estilingue. Todo mundo gosta do Quinzão, menos os cachorros e os meninos serelepes, pois estes não gostam de ninguém e fazem troça com tudo.

O dia começa e Joaquinzão já está de pé. Prepara o café, liga o radinho velho e, sentado sobre o fogão de lenha, fica a observar o tempo, ainda frio, lá fora. Ele sabe que vai esquentar. Não conhece as letras e não tem folhinhas em casa. Mas sabe que é mês de maio, já quase chegando a vaquejada: faz frio de manhã; o sol esquenta à tarde; e o frio volta de noite.

Joaquinzão volta pra cama. O radinho ligado na cozinha; Jota Pinheiro tocando uma moda de viola. As lembranças povoam a mente do solitário homenzinho. Lembra-se da mãe, quando ainda era criança, pelos lados do Sanharó; dos irmãos que já se foram, todos cedo de mais; das vaquejadas em Coração, quando ia com Cirilão, descia na casa da irmã e rodava pela cidade.

Joaquim queria ir à vaquejada; mas, melhor ficar em casa. Ele sabe, já não é mais o rapaz de outros tempos. O radinho toca uma música antiga, tranquila, que o embala a mais um sono. Calixto dorme na casa ao lado, roncando alto, sonhando pouco. Apenas dorme, como se apenas isso lhe bastasse. Quinzão não pensa assim, queria viver a vida, sair pelo mundo, desvendar os horizontes. Mas o seu tempo passou; já não é mais um rapaz.

Suas pálpebras pesam. Tenta se manter acordado, aumenta o volume do radinho. Não adianta, o sono é mais forte e toma o seu corpo. Alguém lhe toca o ombro. Levanta-se sobressaltado. É Calixto com os seus remédios matinais; são tantos, que nem sabe mais para quê tomá-los. Toma-os apenas, como se fosse um eterno ritual.

Calixto volta à sua casa. Antes, desliga o radinho que descansa a um canto do velho e sujo fogão à lenha. Tio Joaquim adormece novamente; agora, sonhando com o Sanharó cheio e vovó cantando uma linda canção de ninar, enquanto, numa mangueira enorme, alguns pássaros cantam em sinfonia, como se acompanhassem a velha mãe.

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