Sentado à beira da lagoa, numa manhã destas, enquanto
o frio vinha me roçar a alma, pus-me a olhar a água que parecia dançar de um
lado para outro. Nenhuma criança brincava nas areias soltas do Portal, assim
como nenhum pescador pescava os peixes que devem morar por estas bandas. Apenas
os quiosques, com suas solidões anestésicas, me faziam companhia.
Ao longe, alguns pássaros voavam para o sul,
enquanto, do outro lado, uma senhora parecia lavar as roupas em algum velho
tanque de madeira. De resto, éramos apenas eu e a solidão. Até que me vieram as
lembranças de outros tempos. Do velho banco de cimento, que permanece, ainda, à
porta da casa dos meus pais; a goiabeira e os cavaletes, onde a vizinha e eu
brincávamos; as camas-de-gato, onde escondíamos, eu e meus amigos, nas
brincadeiras de polícia e ladrão.
Foi então que me veio a ideia da velhice. Não a velhice do tempo, mas, o que é pior, a
velhice da alma. E esta se dá quando as lembranças tornam-se mais freqüentes do
que os sonhos ou a esperança de algum futuro. E estas lembranças me vêm com
freqüência, e trazem consigo uma nostalgia, quiçá, uma melancolia terrível.
Outra vez, enquanto caminhava pela praça da igreja,
quase à porta da padaria, bateu-me uma saudade terrível da minha infância, das
brincadeiras à porta de casa, quando o coração ainda era apenas um órgão onde
cabiam apenas a mãe e o pai, quando os amigos ainda eram eternos e os sonhos
resumiam-se em comprar uma bicicleta e voar como o superman.
Não que eu repudie as lembranças. Mas, que não venham
com tanta freqüência, nem com tamanha força; afinal, já não sou mais aquele
menino de outros tempos; já não tenho o fôlego nem a vivacidade de outrora. O
que me restaram agora foram somente as paixões, as ilusões e as desilusões de
uma vida crua e insensata, além de um poeta louco que, vez ou outra, teima em
me tomar o comando da nave. Aí é um Deus que nos acuda!
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