Às vezes sento debaixo da árvore e fico à espera da
felicidade. Fico aguardando que ela venha devagarzinho, me dê um beijo de boa
tarde e me embale no seu colo. Ela não vem. Apenas algum amigo imaginário
chega. É verdade, eu tenho um amigo imaginário. Aliás, tenho vários amigos
imaginários.
Quando era jovem, até que eu pensava possuir vários
amigos; mas, a maioria me deixou, sem contar aqueles que nunca o foram de
verdade. Por uns tempos, refugiei-me nos livros, nos regaços das mulheres da
vida, nos encantos da bebida e das paixões voluptuosas; mas, depois, já em
tempos de lucidez, resolvi que a solidão seria a minha melhor amiga. E eis que
ela me deu os meus imaginários companheiros.
Eles chegam silenciosos, sentam-se do meu lado e não
dizem qualquer palavra. Sempre esperam que eu inicie a conversa, caso
contrário, ficaríamos eternamente calados. Mas, convenhamos, as verdadeiras
amizades não precisam de palavras ou gestos, basta-nos a companhia, o estar-se
perto, ainda que em pensamento.
Às vezes, travamos longas e acalentadoras conversas.
Geralmente, exponho minhas dores, meus vazios, enquanto eles apenas respondem,
com palavras de carinho, sábios conselhos ou dúvidas esclarecedoras. Um dia,
por exemplo, algum veio com a máxima de que “O amor é um buraco no coração”. Só
depois me disse que tirara aquelas palavras no livro do Alcione Araújo; mas, em
que isso importa, se seja esta a mais pura das verdades?!
Outra vez, um destes amigos, enquanto estávamos
sentados debaixo das goiabeiras, ao som das maritacas, dos periquitos e
maracanãs, que parecem ter feito morada nestas árvores, dissera-me “Apesar de
tudo, ainda acredito na bondade humana”. Talvez ele também tenha retirado esta
máxima da obra de Araújo. É verdade que já não tenho tanta crença na humanidade
e sua bondade, mas, por via de dúvidas, melhor será que eu guarde o livro bem
guardadinho.
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