sexta-feira, 16 de maio de 2014

O NASCIMENTO DO PATO (2)

Patrick não sentia dores ou qualquer seqüela clara do incidente com a bola de fogo, apenas uma sensação estranha tomava conta do seu corpo, como se algo diferente tivesse acontecido e seus hormônios estivessem em ebulição. Mas nada que o estranhasse, nenhuma ferida, nada de arranhões ou mesmo qualquer mancha diferente tomara o seu corpo. Por isso, depois de algum tempo em observação, os médicos liberaram-no para voltar à casa materna.

Durante as primeiras horas a mãe se preocupara bastante, mas, como de costume, depois de algum tempo, tudo voltou ao normal, e o menino voltara a brincar na área do Portal. Dessa vez, não fora sozinho, o Elias foi chamado para brincar com Patrick. Aquele era o filho da vizinha, com a mesma idade deste.

Brincaram por toda a tarde, até que as mães chamassem para o banho e o jantar. Elias e Patrick despediram-se, com a promessa de, no outro dia, retomarem a brincadeira. Aquele, cheio de esperanças; este, com alguma reticência, talvez com a impressão de algo estivesse por acontecer.  E talvez fosse esta a primeira seqüela, o primeiro efeito do incidente: Patrick desenvolvera uma enorme capacidade de previsão, algo que as mulheres chamam de sexto sentido, mas que o menino nem sabia da existência.

A noite foi longa, com o garoto sentindo calafrios e uma terrível e incessante febre. Por algumas vezes tentara chamar pela mãe, mas era inútil, a voz não lhe saía e não tinha forças para se levantar, ir até o quarto dos pais, buscar por ajuda. Aquietara-se, então, a espera do que poderia acontecer e ficou olhando para o teto, como se a qualquer momento alguma coisa descesse pelo telhado e viesse ao seu encontro.

Patrick já estava adormecendo, quando uma luz intensa veio ao seu encontro. Um grande buraco se fez bem no meio do telhado, sem que qualquer barulho fosse feito. Era algo como que um buraco negro abrindo-se em meio ao nada. Uma força diferente começou a puxá-lo para dentro da luz, feito dois braços que o enlaçasse e levasse para junto de si. Não teve forças para gritar. Apenas tentava se manter lúcido, acordado, vivo, talvez por curiosidade, querendo saber o que iria lhe acontecer.

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