terça-feira, 15 de julho de 2014

O REAL MADRI

Em 2000 eu ainda jogava futebol. Quer dizer, corria atrás da bola e dava as minhas caneladas. Como sempre, brincava de futebolista no Real Madri; sempre sonhando em ser um grande jogador de futebol. Ficando mesmo nos sonhos. E, como passara por todas as posições do campo, eu já fora o Taffarel, o Gutemberg, o Paulo Roberto Prestes e, até mesmo, o Ronaldo Fenômeno. Depois, vieram a internet, a rádio, os problemas, e o futebol ficou apenas nas lembranças.

O Real treinava todos os dias, embora não tivesse um campo fixo. Às vezes íamos até o campinho do menon; às vezes detrás do parque, ou, então, brincávamos no Renovação, no Buriti ou no Diamante. Poucas eram as vezes em que jogávamos no Cecorje, o único estádio da cidade, gramado e com alguma estrutura.

Nos finais de semana íamos para os torneios, geralmente, nas roças e, na maioria das vezes, na comunidade Inhaúma, onde, certa feita, um dos rivais, chamando-me a um canto, veementemente, pediu:

- Elismar, fala com os meninos para não virem mais aqui. Todo domingo é a mesma coisa. E, além disso, já cansamos de ganhar de vocês. Vão jogar em outro lugar!

Não teve jeito. Voltamos mais algumas vezes. Ganhamos alguns troféus, mas, quase sempre saíamos goleados, e bêbados. O futebol não passava de uma mera desculpa para as farras. Jogávamos, corríamos, gritávamos, mas, principalmente, vivíamos a juventude através do futebol. E isto já nos bastava. Éramos felizes.

Certa feita, fomos jogar um torneio em São João da lagoa. Partimos de Coração na gaiola de um caminhão de transportar gado, com o cheiro de esterco tomando o nosso nariz e nossos corpos. Havia chovido naquela manhã de domingo e isso aumentava o odor que subia das tábuas soltas da carroceria.

Jogamos quase todo o primeiro tempo debaixo de chuva, com o Lêga e o, saudoso, Polveira, bicando todas as bolas de nossa área, enquanto eu, do meu cantinho na lateral, assistia atenciosamente ao jogo, a espera de uma bola para disparar ao ataque. E como sempre, corria, corria, corria, até perder a bola em linha de fundo. Era um dos mais velozes do time, mas não conseguia correr e pensar. Ou era um, ou outro.

A primeira etapa já estava por acabar e a chuvinha já havia se misturado ao suor, não sendo possível afirmar o que seria um ou outro. Até que o Fabrício, o nosso meio-campo mais habilidoso, que não jogara naquela manhã, porque estava ressacado da noite anterior, chegara até a beira do campo com uma garrafa de Coca-Cola, transbordando de cachaça. Aquele fora o fim da partida, não sobrara nenhum atleta em campo. Nem do nosso, nem do time adversário.

Um comentário:

  1. Cara, fiquei arrepiado aqui Elismar, só de lembrar essas histórias. Simplesmente uma época de ouro...

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