quinta-feira, 17 de julho de 2014

TODO POETA É UM SONHADOR


Meu amigo Fábio Gonçalves, lá em Água Boa, há de convir comigo: todo poeta é um sonhador, um pensador, um pulsador. Sonhamos acordados, criamos histórias imaginárias, vivemo-las solitariamente e, acredite, cremos, piamente, que tudo seja uma grande verdade. E talvez seja por isso que, como diz a minha irmãzinha Aleci, em Montes Claros, somos assim tão diferentes, tão poetas.

Quando menino, eu sonhava ser bancário, contar dinheiro, ter muito dinheiro, e, com ele, comprar carros, casas, a felicidade. Mas, faltava-me a Matemática, o pendor para as contas. Faltava-me a exatidão dos números; preferindo eu a humanidade das palavras, com suas interpretações, seus devaneios, suas ilusões.

Depois, adolescente apaixonado, sonhei ser locutor de rádio e ator de teatro. E corria o mundo, ainda que da minha imaginação, pelas ondas das grandes rádios, pelo brilho hipnotizante das peças teatrais, que eu mesmo criava em minha mente. Mas faltaram-me a voz, a eloquência e o despojamento dos grandes atores e locutores. Faltava-me o pendor para a comunicação, para o contato midiático. Preferia eu conversar solitariamente com as palavras, trancafiados nós numa mísera e branca folha de papel.


Ainda, em tempos de juventude, sonhei ser autor de algum best seller, escrever uma obra inesquecível, inestimável, inenarrável. Queria vender milhões de livros e ser lido por tanta gente, que minha alma não seria capaz de nem mesmo imaginar. Mas, novamente, faltou-me o pendor para o convencimento, para a eloquência, para a disciplina e a objetividade. Preferi, então, ser apenas um sonhador, sem grandes pretensões, sem colossais ilusões. Apenas um sonhador, numa cidadezinha pequena, numa casinha pequena, numa vizinha módica, como cabe a cada poeta, em todas as suas dimensões. Vivendo de sonhos e poesias, sem nada mais que lhe caiba nesta vida.

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