Meu
amigo Fábio Gonçalves, lá em Água Boa, há de convir comigo: todo poeta é um
sonhador, um pensador, um pulsador. Sonhamos acordados, criamos histórias
imaginárias, vivemo-las solitariamente e, acredite, cremos, piamente, que tudo
seja uma grande verdade. E talvez seja por isso que, como diz a minha irmãzinha
Aleci, em Montes Claros, somos assim tão diferentes, tão poetas.
Quando
menino, eu sonhava ser bancário, contar dinheiro, ter muito dinheiro, e, com
ele, comprar carros, casas, a felicidade. Mas, faltava-me a Matemática, o pendor
para as contas. Faltava-me a exatidão dos números; preferindo eu a humanidade
das palavras, com suas interpretações, seus devaneios, suas ilusões.
Depois,
adolescente apaixonado, sonhei ser locutor de rádio e ator de teatro. E corria
o mundo, ainda que da minha imaginação, pelas ondas das grandes rádios, pelo
brilho hipnotizante das peças teatrais, que eu mesmo criava em minha mente. Mas
faltaram-me a voz, a eloquência e o despojamento dos grandes atores e
locutores. Faltava-me o pendor para a comunicação, para o contato midiático.
Preferia eu conversar solitariamente com as palavras, trancafiados nós numa
mísera e branca folha de papel.
Ainda,
em tempos de juventude, sonhei ser autor de algum best seller, escrever uma
obra inesquecível, inestimável, inenarrável. Queria vender milhões de livros e
ser lido por tanta gente, que minha alma não seria capaz de nem mesmo imaginar.
Mas, novamente, faltou-me o pendor para o convencimento, para a eloquência,
para a disciplina e a objetividade. Preferi, então, ser apenas um sonhador, sem
grandes pretensões, sem colossais ilusões. Apenas um sonhador, numa cidadezinha
pequena, numa casinha pequena, numa vizinha módica, como cabe a cada poeta, em
todas as suas dimensões. Vivendo de sonhos e poesias, sem nada mais que lhe
caiba nesta vida.
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