Você
que é muito jovem talvez nem saiba, mas, o futebol naquela época não era coisa
de homem. Era coisa de menino, de craques, com habilidade e malemolência. Não
existiam os superatletas, que tanto abundam por aí. Havia, sim, os caras saudáveis,
que aguentavam correr durante os 90 minutos, sem deixar cair o ritmo da
partida. Mas os jogos não eram tão rápidos, nem tão violentos, nem tão feios.
Eram plásticos, emocionantes, instigantes.
Na
década de 90. Quando eu ainda era criança, o futebol já pensava em decair; mas,
acredite, ainda existia beleza dentro das quatro linhas. Craques como Romário,
Bebeto, Neto, Éder Aleixo, Ronaldinho, sabiam como tratar a redonda, com
carinho, com respeito, com autoridade. E era assim que, todas as tardes, de sábado
ou domingo, eu escutava, na voz de Willy Gonser, pelas ondas da Itatiaia, os
jogos do Galo, com Taffarel, Márcio Santos, Paulo Roberto Prestes, Gutemberg,
Doriva, Valdir Bigode... Enquanto corria, com uma bola de meia, todo o quintal
da minha casa.
Durante
a semana, brincávamos pelos campinhos de várzea da cidade, com bolas “dente de
leite”, bolas de meia ou capotões, chutando tocos, pedras, areia e mato,
sonhando em ser jogadores de futebol. Não pensávamos em ser fortes, bonitos,
viris. Queríamos apenas jogar bola, driblar, dar uma caneta, um chapéu, um
elástico. Sonhávamos em ser os donos do espetáculo.
De
todos nós, nenhum chegou a qualquer grande clube de futebol. Jogamos, por muito
tempo, em times de várzea, pelos campinhos da região: Real Madri, Manchester,
União, Lion. Talvez o Fabrício pudesse ter sido um bom jogador; o Jélson era
muito voluntarioso; o Tinca sempre fora um matador; o Bim tinha tudo para
deslanchar... Mas ficamos com o amadorismo dos sonhos e a sabedoria de que tudo
era uma grande brincadeira.
Você,
que é muito jovem, talvez creia que o Neymar seja um dos nossos melhores
jogadores de todos os tempos; que Cristiano Ronaldo seja um deus do futebol,
que o Messi seja insuperável. Mas, acredite, o futebol não é mais o mesmo. Hoje
temos máquinas jogando futebol, antigamente, tínhamos jogadores brincando com a
bola nas quatros linhas. Não digo que estes ou aqueles sejam melhores ou
piores, mas, tenho a certeza de que a magia do futebol, esta, há muito vem se
perdendo, nas modernidades desta vida.
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