quarta-feira, 9 de julho de 2014

O PÁSSARO E A COPA

Hoje, um passarinho veio bater à minha porta. Ainda era de manhã quando ele chegou, assentou-se na caixa d’água e, comodamente, começou a bebericar a água que pingava da torneira. Era um pássaro de cor amarelada, com resquícios de verde em suas asas. Ao contrário da nossa seleção, não parecia machucado, debilitado ou abatido. Estava plácido, garboso, vívido.

Pensei em chegar junto dele, puxar assunto; quem sabe, falar sobre a Copa e o vexame do nosso selecionado. Mas, achei melhor recuar.  O pobre penoso não tem culpa das bobeiras do Felipão, das falhas do David, nem da eficiência alemã. Talvez ele nem saiba mesmo o que seja uma Copa do Mundo, com toda a sua emoção, suas surpresas, suas justiças ou injustiças. O que ele queria mesmo eram algumas gotículas de água e uma sombra fresca, onde pudesse descansar e, creio eu, replanejar o seu plano de voo.

Acredito que a nossa seleção também precise disso: um replanejamento. Deveríamos começar do zero, como se ainda não tivéssemos qualquer título, nem soubéssemos jogar futebol; porque, de fato, não sabemos, desaprendemos. Fizemos o caminho contrário dos nossos rivais, e, enquanto eles evoluíam, escolhemos a involução... futebolística, social, humana. Escolhemos retroceder. Mas o passarinho não tem nada haver com isso.

Não fui até o ilustre visitante. Tentei criar alguma poesia em minha alma, mas, ela já estava pronta. O pássaro era a poesia, concreta, bela, artisticamente bem disposta sobre a folha da vida. Enquanto poeta, sou péssimo em nomear bichos. Daí a minha ignorância sobre a que pássaro me refiro. Sei apenas que era belo e, despojadamente, me transmitia uma paz incomensurável.

Peguei o celular e, tirando uma foto, rapidamente mandei a sua imagem ao amigo Renato, um exímio conhecedor de pássaros, amante das motocicletas, do cruzeiro e de um bom churrasco. Ainda não recebi o parecer do amigo sobre a nomenclatura e os pormenores da ave; mas, confesso, ainda sinto a poesia que brotava das suas cores e, celeremente, fazia-me esquecer, ao menos por um instante, o vexatório deslize da nossa seleção, com Felipão e os seus pupilos.

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