Hoje,
um passarinho veio bater à minha porta. Ainda era de manhã quando ele chegou, assentou-se
na caixa d’água e, comodamente, começou a bebericar a água que pingava da
torneira. Era um pássaro de cor amarelada, com resquícios de verde em suas
asas. Ao contrário da nossa seleção, não parecia machucado, debilitado ou
abatido. Estava plácido, garboso, vívido.
Pensei
em chegar junto dele, puxar assunto; quem sabe, falar sobre a Copa e o vexame
do nosso selecionado. Mas, achei melhor recuar.
O pobre penoso não tem culpa das bobeiras do Felipão, das falhas do
David, nem da eficiência alemã. Talvez ele nem saiba mesmo o que seja uma Copa
do Mundo, com toda a sua emoção, suas surpresas, suas justiças ou injustiças. O
que ele queria mesmo eram algumas gotículas de água e uma sombra fresca, onde
pudesse descansar e, creio eu, replanejar o seu plano de voo.
Acredito
que a nossa seleção também precise disso: um replanejamento. Deveríamos começar
do zero, como se ainda não tivéssemos qualquer título, nem soubéssemos jogar
futebol; porque, de fato, não sabemos, desaprendemos. Fizemos o caminho contrário
dos nossos rivais, e, enquanto eles evoluíam, escolhemos a involução...
futebolística, social, humana. Escolhemos retroceder. Mas o passarinho não tem
nada haver com isso.
Não
fui até o ilustre visitante. Tentei criar alguma poesia em minha alma, mas, ela
já estava pronta. O pássaro era a poesia, concreta, bela, artisticamente bem
disposta sobre a folha da vida. Enquanto poeta, sou péssimo em nomear bichos. Daí
a minha ignorância sobre a que pássaro me refiro. Sei apenas que era belo e,
despojadamente, me transmitia uma paz incomensurável.
Peguei o celular e,
tirando uma foto, rapidamente mandei a sua imagem ao amigo Renato, um exímio
conhecedor de pássaros, amante das motocicletas, do cruzeiro e de um bom churrasco.
Ainda não recebi o parecer do amigo sobre a nomenclatura e os pormenores da
ave; mas, confesso, ainda sinto a poesia que brotava das suas cores e,
celeremente, fazia-me esquecer, ao menos por um instante, o vexatório deslize
da nossa seleção, com Felipão e os seus pupilos.
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