Foi
a Kedma O’liver quem acordou as lembranças mais recônditas, quando perguntou no
Face sobre quem ainda possuía o
diploma de datilógrafo; daí, como quase sempre acontece, algumas recordações
aguçaram-me a mente improba. Não tem jeito, sou mesmo um nostálgico inveterado,
que ainda persiste na ideia de que ontem era bem melhor que hoje.
Li,
por um destes dias, talvez nalguma rede social, que, acho eu, os alemães estão
recrutando datilógrafos, a fim de fazer – ou refazer – alguns arquivos, como
tentativa de fuga das espionagens estrangeiras, sobretudo, norte-americana. Daí,
ver reforçada a minha tese de que antes era bem melhor que hoje. Tudo bem que
aumentaram as nossas facilidades, mas, convenhamos, já não temos a paz, o
romantismo, a inocência de outros tempos.
Na
casa dos meus pais ainda existe uma máquina de datilografia. Hoje anda
encostada a um canto de barraco, no fundo do quintal, junto às tralhas que meu
pai não usa mais, mas que também não joga fora. Somos todos assim, afinal, o
que não presta devemos conservar por, pelo menos sete anos (Alguém, um dia,
disse isso. E a moda pegou). Mas, a velha máquina foi o começo da minha “era tecnológica”.
Foi
no pesado instrumento, colocado sobre a velha mesa de madeira, que comecei a
teclar, ainda lentamente, o ASDFG das teclas que já caíam os botões. Depois, um
pouco mais gabaritado, escrevi os meus primeiros textos, ainda rudes e sem
lógica; que se resumiam a alguns poeminhas adolescentes e uma história louca de
um menino que saía pelo mundo em busca de aventuras e sofria todas as desventuras
de uma vida madrasta.
Depois,
com o advento do computador, ainda com o DOS, de tela preta e letras brancas, a
velha máquina foi deixada de lado. Sendo que apenas uma das minhas irmãs talvez
tenha adquirido o seu diploma, haja vista que, por algum parco espaço de tempo,
chegara a lecionar o curso em uma minúscula escola da cidade. Ficaram-nos as
lembranças do tec-tec descompassado da velha máquina que, instantaneamente,
cuspia as folhas, já escritas, em preto e/ ou vermelho, de acordo com as nossas
necessidades, até que a fita embolasse, acabasse ou simplesmente secasse, como
sempre acontecia. Como ainda acontece nas nossas vidinhas desregradas.