Com a caixa de engraxate, o
menino desce a rua lentamente. Vai pela São Geraldo. Empaca de frente à
eletrônica do Zezinho, fica por alguns segundos a namorar as televisões e os
rádios velhos. “Um dia ainda compro uma televisão dessas, só pra assistir Jaspion
o dia inteiro!”.
Na rua dos Correios, quebra
à direita. Passa de frente ao açougue, cumprimenta Duzinha, abaixa-se para não
bater com a cabeça no orelhão. E sempre acha que ele fora colocado em lugar
errado: “Como é que pode, todo mundo tem que negar dele. E o pior, ninguém usa!”.
A rodoviária ainda está
vazia. Os ônibus só chegam às dez, e ainda nem são nove. Quem sabe na porta do
banco. Lá já deve ter alguma fila, ainda que não seja dia de pagamento. Desce
as escadas acelerado; passa nos jardins da prefeitura. “Um prédio tão bonito,
pra uma cidade tão descaprichada!”.
De
frente o posto, vê alguns carros enfileirados. Um motorista desce do carro, vai
até o escritório e volta, alvoroçado: “Não tem gasolina nessa joça!”. Melhor
nem parar ali; segue pela avenida, com a caixa dependurada por uma cordinha
fina. Vai pensando besteiras, cantando baixinho alguma musiquinha, criando
histórias que não acabam.
Na praça, nenhuma alma viva.
Para de frente à igreja, benze-se e continua. Para na porta do banco, tudo está
calmo e nenhum caixa pra atender. Dá meia-volta e põe-se a caminhar. Um homem,
preguiçoso, caminha pela praça com os braços cruzados, como quem nada tivesse
pra fazer. “Ô, moço, eu queria saber se o banco não abre hoje!”. O homem não
interrompe sua lenta caminha e, sem olhar para trás, responde: “Vai descansar,
moleque, hoje é feriado. Ninguém trabalha!”
Deu até para ver a carinha do menino.
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