segunda-feira, 10 de abril de 2017

FERIADO

Com a caixa de engraxate, o menino desce a rua lentamente. Vai pela São Geraldo. Empaca de frente à eletrônica do Zezinho, fica por alguns segundos a namorar as televisões e os rádios velhos. “Um dia ainda compro uma televisão dessas, só pra assistir Jaspion o dia inteiro!”.

Na rua dos Correios, quebra à direita. Passa de frente ao açougue, cumprimenta Duzinha, abaixa-se para não bater com a cabeça no orelhão. E sempre acha que ele fora colocado em lugar errado: “Como é que pode, todo mundo tem que negar dele. E o pior, ninguém usa!”.

A rodoviária ainda está vazia. Os ônibus só chegam às dez, e ainda nem são nove. Quem sabe na porta do banco. Lá já deve ter alguma fila, ainda que não seja dia de pagamento. Desce as escadas acelerado; passa nos jardins da prefeitura. “Um prédio tão bonito, pra uma cidade tão descaprichada!”.

  De frente o posto, vê alguns carros enfileirados. Um motorista desce do carro, vai até o escritório e volta, alvoroçado: “Não tem gasolina nessa joça!”. Melhor nem parar ali; segue pela avenida, com a caixa dependurada por uma cordinha fina. Vai pensando besteiras, cantando baixinho alguma musiquinha, criando histórias que não acabam.


Na praça, nenhuma alma viva. Para de frente à igreja, benze-se e continua. Para na porta do banco, tudo está calmo e nenhum caixa pra atender. Dá meia-volta e põe-se a caminhar. Um homem, preguiçoso, caminha pela praça com os braços cruzados, como quem nada tivesse pra fazer. “Ô, moço, eu queria saber se o banco não abre hoje!”. O homem não interrompe sua lenta caminha e, sem olhar para trás, responde: “Vai descansar, moleque, hoje é feriado. Ninguém trabalha!”

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