sábado, 8 de abril de 2017

O MENINO JORNALEIRO

A bicicleta vermelha sobe devagar. O sol está quente e nenhuma nuvem empresta sua sombra ao jornaleiro. Como proteção, um boné de aba reta tapando a testa e uma camisa do Chapolin. Os jornais seguem debaixo do braço, às vezes descansando sobre um dos joelhos. As notícias não são mais gritadas como antigamente. Ao invés dos gritos do menino, o que se ouvem, vez ou outra, são os gritos dos leitores a pedirem “Um Tempo aqui, ô, seu menino!”.

Nas descidas, os jornais jogam-se nos joelhos, segurados por uma de suas mãos. A bicicleta, silenciosamente, cumpre todo o seu roteiro sem qualquer indagação. Segue como se aquele fosse o seu mais importante objetivo: fazer com que o menino jornaleiro leve as informações necessárias a cada leitor que ansiar.

O menino já lera o seu jornal. Também sabe ele que todos os leitores já conhecem as notícias do dia; afinal, com a internet e as mídias sociais, todo mundo já deve saber de tudo logo ao acordar. Mas, o jornaleiro compreende as necessidades de cada um. Não se trata apenas de ler as notícias do dia; mas da eterna rotina de esperar pelo jornal, sentar-se à mesa com o café ainda fumegante, degustar cada letra, cada frase, cada página do jornal.


E, assim, cúmplice de cada leitor, o jornaleiro segue a sua rotina, montado na sua vermelha bicicleta, subindo e descendo sempre as mesmas ruas com os jornais debaixo do braço, ou descansando sobre os joelhos. E a segue lentamente, placidamente, como se o futuro fosse apenas um pontinho brilhante no fim do túnel desta vida descabida.

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