Calor de 29 graus em São
João da Lagoa. A camisa jogada sobre a mesa e as ondas do computador batendo
violentas contra meus óculos. Uma cadeira descansa debaixo do biribazeiro,
talvez a espera de que alguém se assente para olhar os céus, para pensar a
vida. E eis que me vem a lembrança do Patriarca dos Buendia, que, mesmo depois
de morto, estava sempre debaixo de uma grande árvore, dando conselhos aos seus.
Não compreendo bem a ligação
dos Buendia com este texto, mas, frente à falta de assunto que me assola neste
instante, até mesmo uma mera lembrança me serve para aviar a centelha que me
brota dos teclados já quase ininteligíveis do computador.
É público e notório que “Cem
Anos de Solidão” e “Grande Sertão: Veredas” são os melhores livros que li até o
momento; e, frente à distância que parece haver entre ambos, vejo-me na
obrigação de explicar o porquê da lembrança de tão grandes obras.
A verdade é que, embora
escritas em tempos longínquos, essas ainda são um retrato de nosso tempo, haja
vista que vivemos em uma sociedade surreal e melancólica, sempre em busca de
nos encontrar, sem, contudo, nunca nos achar. Mesmo na era da informática, com
tantas redes sociais e a aparente proximidade entre os homens, ainda somos
seres solitários, incompreendidos e desesperados.
É provável que vivamos um
círculo vicioso, sempre dando voltas em torno de nós mesmos, sem nunca
conseguir nos compreender. Talvez, por isso, nunca tenhamos encontrado o tempo
necessário para nos assentarmos à beira do caminho, debaixo de alguma árvore ou
à margem de um rio, para olharmos os céus e, assim como o velho Buendia,
visualizarmos o nosso interior, a fim de encontrarmos as respostas para tudo o
que não compreendemos. E, assim, continuamos solitários, numa eterna travessia.
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