sábado, 22 de abril de 2017

FILOSOFIAS

Calor de 29 graus em São João da Lagoa. A camisa jogada sobre a mesa e as ondas do computador batendo violentas contra meus óculos. Uma cadeira descansa debaixo do biribazeiro, talvez a espera de que alguém se assente para olhar os céus, para pensar a vida. E eis que me vem a lembrança do Patriarca dos Buendia, que, mesmo depois de morto, estava sempre debaixo de uma grande árvore, dando conselhos aos seus.  

Não compreendo bem a ligação dos Buendia com este texto, mas, frente à falta de assunto que me assola neste instante, até mesmo uma mera lembrança me serve para aviar a centelha que me brota dos teclados já quase ininteligíveis do computador.

É público e notório que “Cem Anos de Solidão” e “Grande Sertão: Veredas” são os melhores livros que li até o momento; e, frente à distância que parece haver entre ambos, vejo-me na obrigação de explicar o porquê da lembrança de tão grandes obras.

A verdade é que, embora escritas em tempos longínquos, essas ainda são um retrato de nosso tempo, haja vista que vivemos em uma sociedade surreal e melancólica, sempre em busca de nos encontrar, sem, contudo, nunca nos achar. Mesmo na era da informática, com tantas redes sociais e a aparente proximidade entre os homens, ainda somos seres solitários, incompreendidos e desesperados.


É provável que vivamos um círculo vicioso, sempre dando voltas em torno de nós mesmos, sem nunca conseguir nos compreender. Talvez, por isso, nunca tenhamos encontrado o tempo necessário para nos assentarmos à beira do caminho, debaixo de alguma árvore ou à margem de um rio, para olharmos os céus e, assim como o velho Buendia, visualizarmos o nosso interior, a fim de encontrarmos as respostas para tudo o que não compreendemos. E, assim, continuamos solitários, numa eterna travessia.   

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