sábado, 15 de abril de 2017

LEMBRANÇAS

Algumas figuras da infância sempre voltam, em forma de lembranças, com seus sorrisos, seus gritos, suas vozes e encantos. Estes são vultos do passado que, mesmo sem a importância histórica de tantos políticos e nomes famosos, teimam em eternizar-se pela importância pessoal, por simplesmente terem nos presenteado com suas convivências quase diárias.

Quando criança, eu saía pelas ruas vendendo pães de queijo para Marlene, coxinhas e empanados para Edina e os geladinhos que minha mãe fazia. E, enquanto seguia pelas ruas ainda cascalhadas do Buriti, ouvia os gritos de Zé Planeta gritando: “Olha o pão de queijo quentinho, quentinho! Tá quentinho, tá quentinho!”. É bem verdade que já não tenho a sua imagem firme em minhas retinas, mas ainda ouço a sua voz e ainda me recordo, fielmente, do cesto de pães de queijo que sempre trazia dependurado em um dos braços.

Naquela época ainda tinha o Lila, com seus copos de lata e sua voz fina, estridente, sempre a sorrir e contar causos, como se a vida fosse desprovida de qualquer problema que valesse resmungar. Já o conheci velho, meio curvo e muito magro, mas a lembrança que me resta é a sua felicidade. E isso me basta.

Luís Boló sempre chegava com seu carrinho cheio de frutas e verduras. Vendia alguns amendoins, dois pacotinhos de laranja e assentava-se debaixo do pé de sete-copas para um dedo de prosa com meu pai e os outros Josés que sempre estavam por ali: Zé Motoca, Zé Luís, Zé Lopes e tantos outros que iam se achegando. 

E o que dizer de Tone Ferro-Velho, que sempre estava no boteco de Norato, com Jacinto e Zé de Luca, cheirando um “Torradin” e jogando “Purrinha”! Não se pode dizer que eles falavam qualquer mentira, a verdade é que apenas viviam, com suas anedotas e as mesmas velhas piadas de muito tempo.


E, assim, passa-se o tempo, como um solitário caminho, em que a solidão constante é entrecortada por vultos marcantes que vão e voltam, numa eterna gangorra, em que o final é quando menos se espera.

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