Algumas figuras da infância
sempre voltam, em forma de lembranças, com seus sorrisos, seus gritos, suas
vozes e encantos. Estes são vultos do passado que, mesmo sem a importância
histórica de tantos políticos e nomes famosos, teimam em eternizar-se pela importância
pessoal, por simplesmente terem nos presenteado com suas convivências quase
diárias.
Quando criança, eu saía
pelas ruas vendendo pães de queijo para Marlene, coxinhas e empanados para
Edina e os geladinhos que minha mãe fazia. E, enquanto seguia pelas ruas ainda
cascalhadas do Buriti, ouvia os gritos de Zé Planeta gritando: “Olha o pão de
queijo quentinho, quentinho! Tá quentinho, tá quentinho!”. É bem verdade que já
não tenho a sua imagem firme em minhas retinas, mas ainda ouço a sua voz e
ainda me recordo, fielmente, do cesto de pães de queijo que sempre trazia
dependurado em um dos braços.
Naquela época ainda tinha o
Lila, com seus copos de lata e sua voz fina, estridente, sempre a sorrir e
contar causos, como se a vida fosse desprovida de qualquer problema que valesse
resmungar. Já o conheci velho, meio curvo e muito magro, mas a lembrança que me
resta é a sua felicidade. E isso me basta.
Luís Boló sempre chegava com
seu carrinho cheio de frutas e verduras. Vendia alguns amendoins, dois pacotinhos
de laranja e assentava-se debaixo do pé de sete-copas para um dedo de prosa com
meu pai e os outros Josés que sempre estavam por ali: Zé Motoca, Zé Luís, Zé
Lopes e tantos outros que iam se achegando.
E o que dizer de Tone
Ferro-Velho, que sempre estava no boteco de Norato, com Jacinto e Zé de Luca,
cheirando um “Torradin” e jogando “Purrinha”! Não se pode dizer que eles
falavam qualquer mentira, a verdade é que apenas viviam, com suas anedotas e as
mesmas velhas piadas de muito tempo.
E, assim, passa-se o tempo,
como um solitário caminho, em que a solidão constante é entrecortada por vultos
marcantes que vão e voltam, numa eterna gangorra, em que o final é quando menos
se espera.
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