domingo, 30 de abril de 2017

NO BANCO

Quase sempre vou a Coração de Jesus, permanecendo algumas horas, a fim de resolver alguns pequenos problemas, pagar algumas contas e rever os parentes. Mas, eis que numa dessas, dentro do banco, um sujeito começou a me encarar. Firmei as vistas na tentativa de reconhecê-lo, mas, como não tivesse êxito, resolvi despistar.

Peguei o celular e, como quem se aviasse de algo sério, comecei a cutucar a agenda, rever algumas fotos, brincar com as teclas já gastas do telefone. Tarefa inútil. Uma mão firme tocou o meu ombro e, ao atentar-me, ele já me apertava a mão com um sorriso escancarado:

- Há quanto tempo, meu amigo! Pensei que não o veria mais, mas quem é vivo sempre aparece. Não é verdade?!

Tentei buscar pela memória, procurando no seu rosto sorridente, algo que ligasse a pessoa a algum nome. Inútil. Não havia jeito de me recordar. Talvez fosse algum amigo de infância, um colega de farra, algum ex-aluno. Não tinha jeito.

Creio que ele não percebera o meu embaraço e, antes que eu confabulasse qualquer resposta, continuou a desfiar seu parlatório:

- Rapaz, como anda a família, os meninos?... Lembro-me, como se fosse ontem, das nossas conversas, o futebol, as noites de farra... Mas tudo isso são coisas passadas, né? Eu sei como é. Eu também me casei, com a Andréia, lembra dela? Muito gente fina, a Andréia. Meio doidinha, mas não posso me queixar...

De fato, lembrava-me de várias Andréias: colegas, amigas, alunas. Talvez se referisse a algumas delas. Ainda tentei intervir, mas, o meu interlocutor não se calava.

- Estamos planejando um filho pra esse ano. E já vou lhe avisando, você vai ser o padrinho. Então, já posso chamar de compadre! Isso é... Se você aceitar. Você e Catarina, Claro! Não poderia deixar a Cata de fora. Aliás, como ela está? Fiquei sabendo que não estava muito bem de saúde...

Eu já ia dizer que não era eu o seu amigo. Afinal, não sou casado com alguma Cata e nem mesmo sei quem é Catarina. Mal abri a boca, quando o televisorzinho à nossa frente chamou pelo seu número. Abraçou-me rapidamente e despediu-se:

- Ficamos assim, então, Ricardo: Conversa com a Cata e, depois, me responda. Ainda moro no mesmo lugar. Depois que a Andréia resolveu ficar de vez, a casa anda mais arrumadinha, mas a fachada ainda é a mesma. Abraço, amigão e vê se não desaparece!


Não deu tempo de me despedir, e nem dizer que não sou o Ricardo. Ainda assim, obrigado pelo convite.

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