sexta-feira, 5 de maio de 2017

NEGO DE CABRITA

Um cachorro sobe a rua lentamente
Lentamente, a menina gorda sobe a rua
O sol dessa manhã não é capaz de esquentar o frio que desce do Santa Teresa
O velhinho sobe a rua
O homem de bicicleta sobe a rua
Os meninos sobem a rua em disparada
Pow!
Pow!
Pow!
“Te peguei, cê morreu!... Agora eu sou o ladrão”
O cheiro da gordura queimando o tempero sobe e desce a rua
O doido sobe devagar
Contando dinheiro
Falando besteiras
Chamando a chuva
Xingando Rezando Sorrindo.
“Caiu no poço” “Quem tira?” “Meu bem!”
O casalzinho se beija debaixo do Sete-copas
Uma folha cai lentamente bem na cabeça da mocinha
Um casal sobe a rua apressado
A moto sobe a rua
O carro sobe a rua
Dois rapazes conversam amenidades na esquina
A velhinha sai no portão
“Vem borá, menina, tá na hora de dormir!”
“Quando eu crescer, quero ser veterinária”
“Eu quero ser bancário”
Uma estrela cadente corta o céu
“Faz um pedido”
“Quero casar com você”
“Se falar não realiza”
“Me dá um beijo”
“Vem pra dentro agora, menina!”
O asfalto sobe a rua lentamente
Os quebra-molas se vão
A poeira se vai
Vão-se os redemoinhos
A infância sobe a rua
A adolescência sobe a rua

O homem aquieta-se num canto, esperando o cometa que corta o céu, enquanto a vida, tristemente, desce a rua.

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