Entremeando o rosário e as ladainhas, apenas
o silêncio. Eram poucos os que acompanhavam o féretro; gente simples, amigos do
falecido. Todos ali se sentiam tristes, como acontece em todo velório, mas,
apenas Francisca chorava. E fazia-o
copiosamente, sendo amparada por duas velhinhas de cara cansada. Ela tinha os
pés descalços e vestia-se com um gasto vestido branco que deixava transparecer
suas formas de menina-moça, com os seios durinhos e as coxas grossas.
O padre ia junto do caixão, o suor lhe
escorrendo pela testa, quase cozinhando debaixo da batina. Francisca ia à sua
frente, e isso lhe causava ainda mais calor. Às vezes, olhava para cima, como
que a procura de alguma nuvem que lhe abrandasse o calor daquele dia; mas não
choveria, não haveria de chover por um longo tempo. A falta de chuva, a fome,
as guerras familiares, tudo isso seriam o carma daquele povo. Feliz era o
defunto, que descansava de tudo aquilo.
Nos botecos, homens bebiam suas tristezas e,
quando avistavam o caixão, punham o copo sobre o balcão, tiravam o chapéu da
cabeça e benziam-se em respeito ao morto. Depois, voltavam às suas tristezas e
abrandavam-se nas bebidas e piadas chulas. Ainda assim, enquanto o féretro
partia, falavam de Francisca e o seu futuro, conjecturavam a sua virgindade e
apostavam sobre quem haveria de quebrar o seu cabaço.
Juca não escutava nem sentia aquelas
falsidades e debilidades humanas. Vestido da sua roupa domingueira, as mãos
postas ao peito, a barba feita e em completa falta de sentimentos, dormia
tranquilamente no caixão, sem saber se um dia voltaria, sem se preocupar com o
futuro de Francisca; sem nem mesmo agradecer aos préstimos de Meneandro ou
tomar um último trago de pinga com o padre. Apenas descansava e deixava que o
levassem pela Coronel, naquele sol escaldante de dezembro.
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