sexta-feira, 28 de abril de 2017

SAUDADES ADOLESCENTES

- Oi, amor, ainda se lembra de mim? – Como poderia esquecer? Quando o telefone tocou, uma sensação ruim bateu-lhe na ideia. Não lembrava mais dele, mas o subconsciente sempre apronta uma dessas. Não dissera mais nada, apenas aquela frase tentadora.

            Estava casada, tinha filhos, um marido amoroso e uma vidinha tranquila. Um dia, sonhara ser bailarina, cantora, bancária, ter bastante dinheiro, vários namorados, passear pelo mundo, despreocupada, despida de ocupações, curtindo a vida. Agora, mulher casada, mãe de família, queria apenas o sossego da rotina familiar.

            Desligou o telefone antes que o indesejado interlocutor pudesse mencionar qualquer palavra. Como ele encontrara o seu telefone? Quem lhe dissera onde estava? Será que ele sabia tudo sobre a sua vida? Como estaria ele, tão belo quanto antes, ou teria envelhecido, com a barba branca e os cabelos idem?

            Não podia estar pensando aquilo! Era uma mulher casada, com filhos... Com uma reputação a zelar. Benzeu-se por três vezes, deu três batidinhas sobre a mesa, queria tirar toda a zica que estivesse sobre si.

                         E agora? As lembranças teimavam em plantar-se em sua mente. Quantas foram as vezes em que ele viajava e ela ficava dias a esperá-lo, recostada na janela, como naqueles velhos filmes americanos. Era doida por filmes, por várias vezes foram ambos ao cinema, ele chegava no seu caminhão, pegava-a pelo braço e ela deixava-se levar por aquela paixão adolescente, sonhando contos de fadas.

            Tudo aquilo eram apenas sonhos. Ele nunca haveria de lhe fazer serenata, roubar-lhe no meio da noite ou , ao menos, levá-la ao cinema. Ligasse de novo e ela haveria de lhe jogar tudo na cara. Cafajeste! Ela era apenas uma mocinha apaixonada e ele se fora, deixando-a com o coração partido e as lágrimas descendo pelo rosto juvenil.


            Já era tarde quando o telefone tocou. Antes que a pessoa lhe dissesse algo, ela sussurrou: - Amanhã as oito, na pracinha da igreja. Mas vem mesmo, que estou com saudade! – Desligou o telefone rapidamente; tinha medo de que não fosse ele do outro lado. 

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