- Oi, amor, ainda se lembra de mim? – Como poderia esquecer?
Quando o telefone tocou, uma sensação ruim bateu-lhe na ideia. Não lembrava
mais dele, mas o subconsciente sempre apronta uma dessas. Não dissera mais
nada, apenas aquela frase tentadora.
Estava casada,
tinha filhos, um marido amoroso e uma vidinha tranquila. Um dia, sonhara ser
bailarina, cantora, bancária, ter bastante dinheiro, vários namorados, passear
pelo mundo, despreocupada, despida de ocupações, curtindo a vida. Agora, mulher
casada, mãe de família, queria apenas o sossego da rotina familiar.
Desligou o
telefone antes que o indesejado interlocutor pudesse mencionar qualquer
palavra. Como ele encontrara o seu telefone? Quem lhe dissera onde estava? Será
que ele sabia tudo sobre a sua vida? Como estaria ele, tão belo quanto antes,
ou teria envelhecido, com a barba branca e os cabelos idem?
Não podia estar
pensando aquilo! Era uma mulher casada, com filhos... Com uma reputação a
zelar. Benzeu-se por três vezes, deu três batidinhas sobre a mesa, queria tirar
toda a zica que estivesse sobre si.
E agora? As lembranças teimavam em plantar-se
em sua mente. Quantas foram as vezes em que ele viajava e ela ficava dias a
esperá-lo, recostada na janela, como naqueles velhos filmes americanos. Era
doida por filmes, por várias vezes foram ambos ao cinema, ele chegava no seu
caminhão, pegava-a pelo braço e ela deixava-se levar por aquela paixão
adolescente, sonhando contos de fadas.
Tudo aquilo eram
apenas sonhos. Ele nunca haveria de lhe fazer serenata, roubar-lhe no meio da
noite ou , ao menos, levá-la ao cinema. Ligasse de novo e ela haveria de lhe
jogar tudo na cara. Cafajeste! Ela era apenas uma mocinha apaixonada e ele se
fora, deixando-a com o coração partido e as lágrimas descendo pelo rosto
juvenil.
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