Sentado sobre uma pedra (porque sobre elas é o
melhor lugar para se pensar) ele pensava. Mais que isso, lembrava-se de como a
vida mudara rapidamente e meditava sobre as consequências de tantas mudanças.
Enfim, cria, ainda mais, que antigamente a vida era bem melhor. Não que fosse um
nostálgico, até gostava das inovações tecnológicas e da exacerbada libertinagem
do novo século; mas, o politicamente correto é que lhe enchia o saco.
Tinha a certeza de que ninguém conhecia o inventor
da nova onda, mas, como todas as convenções, aquilo era seguido por uma enorme
gama de indivíduos e, por isso, a vida tornava-se cada vez mais chata.
Aumentaram-se os direitos de cada um, e, sobretudo, aumentaram-se as cobranças,
a vigilância, a autocensura. E isto era a aporrinhação.
Na sua época de jovem politizado, em plena
ditadura, simplesmente por questões ideológicas contrárias às forças
dominantes, aprazia-se em xingar os negros de crioulos, gasolina, café e coisas
do gênero; as prostitutas eram somente putas, enquanto as periguetes eram
raparigas. Naquela época, os palavrões eram a ordem da moda, e, surpreendam-se,
até mesmo as moças mais recatadas, da alta sociedade, fumavam cigarros e
cantavam gírias, putarias mesmo.
Hoje (e isto o incomodava), os pretos viraram
afrodescendentes e têm direito à cota de vagas em universidades; as putas
viraram profissionais do sexo, enquanto os veados transmutaram-se em
homossexuais, com direito a passeatas e comemorações. Não se pode mais
desacatar autoridades, não se pode mais fumar cigarro em público, não se pode
mais encher a cara e chutar o balde alheio...
E uma imensa agonia arfava-lhe o peito. Era bom o
tempo em que “o negro sempre cagava na entrada ou na saída”; que a gordinha
virava um “Tribufu” e isto não lhe cabia processo por Bulling; que
veado se curava no pau e puta levava uns tabefes para esquentar... Mas, naquele
tempo, os militares eram o poder e a autoridade não éramos nós.
Naquele tempo tudo era certo e o errado era estar
fora da moda. O politicamente correto era aliar-se aos milicos e sovar os
terroristas da esquerda, os comunas, como diziam... Enquanto isso, a pedra
parecia andar, devagarzinho, rumo ao imenso desfiladeiro; até que ele despencasse
morro abaixo, com suas irracionalidades e toda a sua incorreção.
VOCÊ SERÁ SEMPRE VOCÊ CARO CONFRADE.
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