Não importa contra o quê, o
importante é vestir a camisa da seleção, colocar o bonezinho vermelho na cabeça
e sair pelas ruas gritando palavras de ordem. Catarina sempre cultivara este
pensamento. Tendo estudado durante toda a vida em escolas particulares, e há
alguns anos tentando vestibulares pelo país afora, sempre se sentira revoltada
com a situação política do Brasil, até porque, para ela, esse é o ponto central
de todos os nossos problemas.
Quando criança, ainda no
Ensino Fundamental, criara um jornalzinho escolar: “O Crudelíssimo”, onde
expunha toda a sua ira contra a direção da escola. Para ela, a Educação era
coisa muito séria para ficar nas mãos de um diretor, dois vice-diretores e alguns
cinco membros do Conselho Escolar; o ideal seria a participação de todos os alunos
em todas as tomadas de decisões do educandário, afinal, eram eles os principais
interessados no assunto.
Em protesto contra as ações “ditatoriais”
do comando escolar, por algumas vezes, organizara manifestações no pátio, na
hora da merenda, sempre gritando palavras de ordem junto de alguns gatos
pingados; sendo que sua ação de maior monta fora também a sua expulsão do
educandário, quando, junto de quatro outras garotas, saíram pelos corredores
despidas de suas blusas, sem mesmo peitos terem para mostrar.
O Ensino Médio abandonara
por várias vezes, tendo dado grande prejuízo ao pai, um grande empresário do
ramo de alimentos. Por algum tempo fora morar com os índios, depois, passara
uma temporada numa colônia Hippie e, por fim, ingressara num movimento social
que lutava pelos descamisados do Brasil. É bem verdade que todos estranhavam as
suas roupas de grife, seu telefone caro e seus perfumes importados, mas ninguém
queria perder as suas gordas doações.
Ao assistir aos protestos de
ontem, pela televisão, vi que Catarina também estava lá, com sua velha blusa da
seleção, seu bonezinho vermelho e sua calça de marca. A câmera da tevê
dispensara todo o seu foco naquela moça, talvez com seus trinta e alguns anos,
filha de um grande empresário, que se dizia revoltada com a situação política
do Brasil e, feito uma louca, abraçava-se ao pára-brisa de um carrão, sendo
arrastada para alguns metros adiante.
De acordo com o âncora,
Catarina passa bem e já está em casa, num condomínio da Zona Sul da cidade. O
seu pai, assistindo a tudo aquilo pela tevê, pede a todos os santos que a PF
nunca apareça na empresa, senão, ele estará em maus lençóis.
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