Um menino catarrento brinca
na terra. Apesar de já grandinho, ele está pelado. A barriga grande é
desproporcional ao resto do corpo, magricela, todo acinzentado. Vez ou outra,
limpa o catarro com o braço, deixando marcas amarelecidas em meio à sua cor
desbotada. Timidamente se levanta, chega de cabeça baixa e diz:
- Bença.
A sua mão está toda suja de
lama. Dou-lhe a bênção e faço menção de seguir. Alguém grita:
- Ei, vem cá!
Abaixo a cabeça para não
acertar a minúscula porta e assento-me num velho banco de madeira. A casa é
bastante simples. O fogão à lenha ainda mantém algumas brasas acesas, esquentando
uma caçarola com feijão e um bule desbotado. As outras duas panelas a um canto
estão cobertas com tampas improvisadas, deixando à mostra o arroz branco
quebrado e um macarrão seco e amarelo.
O homem, dicrocado sobre os
calcanhares, fala sobre o sol que tem queimado toda a lavoura, sobre o filho de
seu Laudreando, que, dizem, engravidara a filha de Quitéria e, com medo dos
irmãos da moça, tinha fugido para São Paulo numa noite dessas. A verdade é que
faz rodeios, enquanto observo o menino que brinca na lama, pelado, com o rosto
coberto de catarro.
Faz tempos que moram ele
e o menino. Havia se casado ainda muito jovem, com uma mocinha que viera da
Bahia trabalhar numa carvoeira com os pais. Viveram felizes por algum tempo,
com o menino e as agruras daquele lugar. Mas, numa manhã qualquer, antes que
ele se levantasse para ir para a roça, dissera que ia buscar água na cacimba e
fugira com Cassiano, filho de seu Ludovico.
Não se casara novamente.
Vive a trabalhar pelas redondezas, sempre com o filho a tiracolo. Agora, teria
de ir trabalhar numa fazenda longe, mexer com gado e lavoura grande. Pagariam
bem; não teria como não pegar.
- Preciso de um favor seu...
Noto a sua voz embargada,
como se algo o quisesse impedir de falar. Respira profundamente e, como se
saltasse num precipício, diz:
- Fica com o meu filho. Não
posso levá-lo. Troco num radinho de pilha.
Meu amigo, merece neste conto, um conto de reis. Maravilhoso, o melhor até hoje apresentado, parabéns meu confrade,
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