Quem não o tivesse
visto esticado no jirau, só a muito custo poderia acreditar no fato da sua
morte. Não é que fosse um homem imortal, no entanto, muitos descriam de que um
dia ele pudesse desencarnar. Gumercindo Torres era, de fato, um homem morto.
Muito morto de verdade. Apenas um corpo velho e cansado estendido bem no meio
da grande sala de visitas. Vestia um terno preto, todo de um linho velho, mas
de muito boa conservação, uma gravata vermelha com bolinhas pretas e algumas
linhas pretas em
diagonal. Verdade seja dita, mas quem parasse para fitá-lo
naquele velho jirau, se lhe olhasse bem, na sua feição, bem seria capaz de
dizer que o velho não estava ainda morto, pois bem nas extremidades de sua
boca, alguma coisa estranha não deixava de acontecer, era como se um sorriso,
de desdém ou, quem sabe, de alegria, começava a ser esboçado; não se podia
discernir se ele de fato sorria para a morte que o recebia ou se galhofava
daqueles que, falsamente choravam a sua morte, enquanto, no seu âmago,
desejavam a sua riqueza.
Não havia mais de
três horas que o “Seu” Torres tinha morrido e, mal a notícia se espalhou, a
casa já estava cheia de visitas, eram homens, mulheres – parentes ou não-, uns
chorando pelos cantos da casa, outros contando, com lágrimas enchendo os olhos,
as tantas bondades do falecido. É bem verdade que nem todos, ou quase ninguém,
era da família do coronel, no entanto, em sua grande parte, eram todos
afilhados ou protegidos do homem, pessoas que deviam tudo que tinham e, até
mesmo, a própria vida à boa vontade dele. Não que o coronel fosse algum santo –
e, ele tinha muito dos chamados pecados escabrosos – mas era, para aqueles
descamisados, o pai que muitos nunca um dia puderam ter, e era ele quem os
protegia e ajudava em troca de serviços e lealdade.
O coronel Torres não
era lá um homem de muita conversa e à força de muita braveza e vários homens ao
seu dispor para serviços mais sujos fez a sua fama percorrer todo o Sanharó, o
que o fazia, por força de fama e armas, era dono de todas aquelas terras e
todos que nelas vivessem. Não havia aquele que ousasse contrariar uma palavra
sua e o seu pedido era mais que uma ordem para quem tivesse a mínima quantidade
de juízo.
José foi quem
primeiro o encontrou, e, de fato, o coronel Gumercindo Torres já estava bem
morto, deitado no jirau, com os braços abertos, enquanto da sua boca descia uma
gosma branca e fedorenta. Era depois do almoço – mais ou menos na hora da sesta
- e José saíra do quarto em que estava cochilando, a fim de tomar um banho para
refrescar o sufocante calor que fazia àquela hora. A porta do quarto estava
aberta e quem passasse por ali, logo, o veria jazente no seu jirau; o suor
descia pelo seu rosto, realçando ainda mais as rugas que já tomavam toda a
face, e apenas um velho calção de banho era o que lhe cobria a nudez. Fora
grande a correria dentro da casa e até que tudo pudesse voltar a sua aparente
normalidade, numa casa de defunto, e até que todos pudessem tomar conhecimento
do trágico acontecido, José não se fez de rogado e tomou frente em todos os
afazeres necessários naquele dia.
A fazenda ficava
ainda nos territórios do Sanharó, mas, mais para os lados do Pitão, já bem
próximo à casa de Zé Roxão e a de Zé de Ana Grande. O cerrado era a riqueza
daquele lugar, pois eram as suas muitas árvores que faziam movimentar a todo
vapor às carvoarias que por ali se instalavam, renda maior de toda região e a
mais nova esperança de riqueza do sofrido sertanejo. A lavoura definhava a
olhos vistos e com as, cada vez mais escassas, chuvas, que teimavam em não
cair, aqueles que não partiam com as suas famílias para um lugar distante e
incerto, em busca de um futuro melhor, aventuravam-se em outros tipos de
trabalhos para sobreviverem. O destino daqueles que não queriam enfrentar a
dureza do machado era sempre o mesmo, fugir de casa em busca de algum eldorado
perdido, e foi desta forma que a pequena população daquele recanto foi, ainda
mais, se rareando. Menos da metade foram os que ficaram no Sanharó e na casa de
Justino e Gentil, sobraram apenas Luzia, Madalena e José.
Inicialmente, cabe
explicar a você, amigo leitor, que, desde o sumiço do pequeno Bento, há mais de
dez anos, a chuva foi ficando sempre mais escassa até que, por fim, não choveu
nem uma gotícula sequer. As roças morreram de sede e de tantos animais apenas
alguns, mais resistentes, conseguiram, com muito custo, sobreviver. O rio, que
antes era taludo e brincalhão, diminuíra a sua quantidade de água e apenas na
presença de José mostrava um pouco de felicidade e começava atinar a algum tipo
de brincadeira. Dos viventes que havia na casa de Justino, Geraldo foi quem
primeiro seguiu seu rumo, saiu numa madrugada, antes que alguém pudesse
acordar, arrumou as suas coisas e partiu , atravessou a pinguela e desapareceu,
talvez para nunca mais voltar. Depois foi Gentil, que, começou a sentir dores
fortes no peito e , por mais que os outros pedissem , negava-se a procurar um
médico; um dia, amanheceu reclamando dores e, antes que o dia findasse, morreu
nos braços de Luzia, que quase não aguenta de tamanho sofrimento.
De todos aqueles,
Justino foi quem mais sofreu; primeiro viu a mulher perder o juízo, pouco
depois da partida de Geraldo, momentos em que ela saía correndo nua pelos
matos, sempre gritando pelo nome do filho fugidio; depois, veio a morte dolorosa
da velha, que desfaleceu em seus braços após jurar-lhe amor eterno. Ele foi
quem mais resistira a tantos sofrimentos, trabalhava como se fosse um
condenado, nas lavouras mortas, e, todas as noites, dormia bêbado, na velha
palhoça perto do rio, chamando, aos prantos, pelo nome de Margarida; um dia,
quando José ia para o serviço , encontrou-o jazente à beira do rio Sanharó,
estava todo emagrecido pela dor da perda e o álcool havia tirado toda a sua
alegria de viver. Restaram apenas aqueles três, sozinhos naquele velho e rude
sertão.
O coronel Gumercindo
Torres tinha se enviuvado desde muito moço e vivia, desde então, naquela
fazenda com o filho, Eleovaldo, que criara sozinho e a quem tinha como se fosse
o grande tesouro da sua vida. O rapaz que crescera correndo por aqueles
matagais, foi para a cidade grande, fez-se doutor advogado, mas, como tinha as
suas raízes na roça e fosse muito apegado ao pai, resolvera então voltar para o
Sanharó e ir levando a sua vidinha do jeito que Deus quisesse. Ao contrário do velho,
ele tinha um bom coração e prezava sempre pela justiça e os direitos iguais
para todos, herança da vida acadêmica; tinha uma grande fraqueza por festas e
cachaçadas e foi por uma destas que se tornou no grande amigo de José. Ambos
andavam sempre juntos, como se fossem unha e carne, e gostavam quase sempre das
mesmas coisas, e, não é de se estranhar que, por ironia do destino, gostassem
também da mesma mulher, a doce e meiga Madalena. Eleovaldo sabia do amor que o
amigo cultivava por Madalena, respeitava-o como a um irmão e nunca ousava tocar
no assunto do seu amor por ela, no entanto, guardava num cantinho do peito uma
pitada mínima de esperança.
O filho do coronel sabia das
dificuldades pelas quais o amigo estava passando e, como prova verdadeira de
sua grande amizade, resolveu convidá-lo para uma parceria: José produziria o
carvão nas terras do coronel e todo o lucro que obtivessem seria dividido entre eles. O rapaz sempre
negaceava da proposta, mas, a situação estava a cada dia pior e ele já não sabia
mais o que fazer; tinha dúvidas e um grande medo de errar na hora de escolher.
Eleovaldo, vendo que o amigo cambaleava na resposta, convidou para um final de
semana na fazenda, conheceria todo o lugar e os que ali trabalhavam e só depois
é que daria a sua resposta final. E foi então que se deu a inesperada morte do
Coronel Gumercindo Torres.
José sentia-se cansado e resolveu sair
para o jardim a fim de tomar um pouco de ar fresco. O corpo do coronel começa a
exalar um cheiro forte, já quase insuportável, e o hálito dos presentes já
cheios de álcool o estava deixando tonto. O céu estava coberto de estrelas e a
lua cheia fazia-o lembrar os olhos de Madalena. Lembrou-se da proposta feita
por Eleovaldo; ele, José, bem queria mudar de vida, transformar-se num homem
rico e ser o maior carvoeiro de toda aquela região, mas ele tinha medo. José
era um homem que tinha medo de mudanças. Nascera na beira do rio e foi ali que
se criou, correndo, pulando e brincando com ele, achava injusto abandoná-lo num
momento tão difícil como aquele. Pensava em Madalena e tinha a certeza, como
apenas os sábios podem ter, que naquele lugar, vivendo das bondades da terra,
nunca poderia dar a Madalena a vida que ela sempre mereceu.
Bento um dia havia dito que Madalena um
dia seria sua e que o rio os havia apadrinhado; mas agora a sua cabeça estava
cheia de dúvidas e ele não queria mais acreditar nas palavras do amigo. Pensou
em Bento e quis que ele estivesse ali para aconselhá-lo; não havia tido mais
nenhuma notícia dele, talvez estivesse feliz em algum lugar distante ou, então,
poderia estar morto, como um indigente, por aí. Lembrou-se do coronel morto,
estendido no jirau no meio da sala, sob os olhares curiosos de todas aquelas
pessoas. Já era bem tarde e um dos empregados o viera chamar, pois precisavam
dele para que pudesse despachar as últimas ordens daquela noite e fazer
companhia ao amigo desconsolado. Benzeu-se com fervor enquanto pensava em
Madalena; e, naquele mesmo instante, sem qualquer motivo de grande relevância,
pois as coisas eram monótonas e constantes naquele lugar, não contando as
coisas do coração que era o que mais se transformava e fazia girar as coisas
ali, há algumas poucas léguas daquela grande fazenda, uma pobre moça chorava
sozinha, sentada à beira do Sanharó, enquanto o rio, mansamente, vinha molhar
os seus pés, parecendo os acariciar.
O rio descia mansamente enquanto suas
águas claras banhavam os pés macios de Madalena. Apesar das águas quase
paradas, podia-se notar certa intranquilidade naquele ambiente árcade, era como
se alguma coisa incerta estivesse por acontecer, algo que ninguém sabia, mas
que o rio sabia que não era bom.
O céu estava limpo de nuvens e as
estrelas estavam todas reluzentes e abriam caminho para uma lua cheia e toda
coberta de formosura. Bem sabe o leitor que seria redundante afirmar aqui que o
céu estava lindo e que se acaso algum dos famosos poetas o vissem naquele
instante, na certa, fariam uma das mais belas poesias de que se poderia ter
notícia. No entanto, a vida é toda feita de contradições e contrariedades, e,
junto ao rio se encontrava a mais triste dentre todas as mulheres da beira do
Sanharó.
Mesmo que não tivesse motivos, a pobre
moça chorava. Sentara-se à beira do rio enquanto entardecia e, agora, punha-se
a desabafar. Lembrava dos irmãos, Jeremias e Luisinho, que tinham ido embora
para o Maranhão e nunca mais tinham dado qualquer notícia; lembrava-se deles,
mas não era por eles que chorava. Estava em prantos por si mesma e pelo que já
estava por acontecer; não tinha certeza do que poderia ser, mas sentia, como
sentem todas as mulheres, e sabia que não podia ser nada que viesse para o bem
. Madalena pensava em José e gostava de estar com ele; sabia que o amava e,
como lhe disse Bento, certa feita, guardava em seu coração a esperança de que
um dia seria a sua esposa. É certo que ela o queria como homem, ás vezes
sonhava com ele e sentia um intenso calor subir-lhe por baixo do vestido,
outras vezes, ainda, quando ele estava por perto , sentia uma vontade imensa de
possuí-lo entre as suas coxas e afogá-lo nos seus seios pequenos e duros,
sentia o seu calor quando estava perto e, quando ele estava longe, sentia uma
grande saudade de vê-lo, tinha certeza de que ele era o seu verdadeiro amor.
Mas o destino é o inimigo de todas as coisas bonitas e certas e parecia sempre
estar contra aqueles dois, pois sempre que estavam próximos um do outro sempre
tinha algo para atrapalhá-los.
Madalena sentiu um fogo estranho tomar
todo o seu corpo. Fechou os olhos e começou a pensar em José; sentiu que a sua
mão grossa acariciava o corpo dela e, por um momento, pôde sentir o grande
prazer daquele corpo penetrando no seu. O coração batia rápido e as pernas
pareciam tremer de emoção, sentia que o tempo estava frio, no entanto, um
enorme calor a cada instante que passava penetrava ainda mais pelo seu corpo.
Ela ainda chorava, mas não se sabe se era um choro de tristeza ou se tudo não
era mais que sussurros prazerosos de amor. José estava longe, mas ela o sentia
dentro de si, ao seu lado e, como nunca, no seu coração. O suor descia pelo seu
corpo moreno e, à medida que o calor tomava o seu corpo, sentiu uma grande
vontade de banhar-se nas águas do rio. Tirou toda a sua roupa e, nua em todo o
seu pudor e sentimento, entrou pelas águas claras e mansas e deixou que o rio
abraçasse o seu corpo, o acariciasse e o embebesse do mel das suas entranhas; e
ela se fez em mel, mel de moça virgem, como se fosse um botão de rosa pronta
para desabrochar nas águas daquele rio.
Fazia já muito tempo que Madalena
estava fora de casa e Luzia começou a se preocupar, olhou pela janela da
cozinha e, não a vendo por perto, resolveu sair para procurá-la. Foi direto
para a beira do rio, como se fosse guiada para aquele lugar; chegou devagar,
talvez temendo que pudesse assustar a pobre moça que continuava sentada no
barranco com os pés encobertos pela água do rio.
- Quê que ocê tem que chora desse
jeito, Madalena, minha filha?
Os olhos da moça estavam com um tom
avermelhado, de quem chorara por muitas horas a fio, mas, entre soluços, que
fazia grande força para controlar, e um sorriso que forçava para sair dos
cantos de sua boca, respondeu:
- Não sei por que não, minha mãe.
Parece que me deu vontade, é como se tivesse alguma coisa aqui dentro de mim,
doido para saltar pra fora, sempre querendo sair de mim.
A velha ainda tentou dizer alguma coisa
que pudesse consolar a sua filha, mas, entendendo que aquela não era hora para
se dizer o que quer que fosse, calou-se, e, sentando-se junto à filha,
abraçou-a, e, ambas, ficaram paradas olhando concentradas para o rio que descia
mansamente pelo seu curso. Luzia sentiu que a filha estava molhada e, ainda,
que um calor intenso subia do seu corpo; não perguntou nada, apenas olhou
brandamente para o rio que pareceu brincar de um lado para outro.
Luzia olhava fixamente para o rio e,
conhecendo-o há tanto tempo, entendeu, com toda a sua compreensão de mãe, de
tudo aquilo que, naquele lugar, tinha se passado. Fechou também os olhos e
sentiu, bem no fundo do seu coração, que tudo ali estava mudado, sentiu que
havia chegado a hora, teriam de sair daquele lugar e que, talvez, nunca mais
ela voltaria para ver o seu velho amigo. Deixou que uma lágrima lhe caísse dos
olhos e disse:
- É chegada a hora. – E antes que a
filha questionasse – continuou:
- Talvez eu não volte
mais nesse lugar... Um dia o rio me disse que sinal havia de ser dado. Mas peço
que depois, logo depois da minha ida para o outro mundo, ocês me enterra nesse
lugar, pois foi aqui que eu nasci e sei que aqui é que devo ficar... Cês tem de
voltar pra cá e depois há de ir de novo, pois já há de ter chegado o tempo que
tem que ir. – Madalena ainda tentou pronunciar alguma palavra que fosse, mas os
dedos grossos de Luzia tamparam a sua boca e ela, submissa, deixou-se ficar em
seu canto, pois sabia que não era a sua mãe quem falava, mas o rio que dizia
por ela.
Um vento brando soprava um pouco mais
forte e o rio começava a ficar agitado. Ao longe, um cachorro do mato uivava e
morcegos sobrevoavam na imensidão escura da noite em busca de alimentos; uma
coruja piava no alto de um coqueiral e as estrelas ainda brilhavam fortemente
no céu. Luzia olhou vagamente ao seu redor e disse:
- Filha, vamo dormir que já é tarde e
amanhã é dia de muito trabalho. José deve chegar amanhã ainda bem cedo e nós
deve de tá de pé, pra que ele diga o que é pra nós fazer. A moça levantou-se e
ambas – mãe e filha- foram embora enquanto o rio brincava com suas margens
parecendo querer espantar a dor da separação.
Alguns diziam que a morte da velha era apenas uma questão de
tempo. Luzia não tinha mais forças para andar, tinha a tristeza estampada nos
olhos e vivia sempre reclamando da vida, sentia saudades dos filhos e, de uns
tempos pra cá, passou a conversar intermináveis ladainhas com o marido morto.
Fazia apenas dois dias que haviam se mudado do Sanharó, e, de manhãzinha,
acordou com uma forte dor no braço esquerdo. Tomou todos os remédios e chás que
conhecia, mas a dor sempre ia aumentando, até que, pouco depois da ave-maria,
sentiu uma forte dor no peito e desfaleceu; acordou já bem tarde no outro dia,
sem sentir mais as suas pernas; perdeu muito da agilidade que lhe era peculiar
e, no ato da fala, mais se fazia entender por gestos e palavras entrecortadas.
Era muito grande o sofrimento de Luzia, e junto dela
aumentava também o sofrimento de Madalena, pois a pobre moça sofria pela dor de
sua mãe e, sempre mais, penava pelo amor de José. Ele trabalhava durante todo o
dia, enquanto ela cuidava dos afazeres domésticos e da mãe moribunda. O rosto
moreno, que sempre fora sinal de alegria e desprendimento, é bem verdade que
ainda guardava a essência de tempos passados, no entanto, agora, carregava nos
detalhes a tristeza e a seriedade do tempo e das responsabilidades. Madalena
sabia do sentimento que cultivava por José, mas tinha medo de perdê-lo, ou,
quem sabe, tinha medo de possuí-lo, de se entregar ao homem que amava e a quem,
pelas águas do rio, fora um dia prometida. Ela o queria, mas tinha como se tem
a um irmão de sangue; haviam sido criados juntos e isso a enchia de uma grande
culpa; sonhava com ele de noite e um grande calor subia pelo seu corpo, pensava
serem pecados aqueles pensamentos e punha-se a rezar, como se tudo aquilo fosse
uma grande heresia. Às vezes, pelo motivo mais banal ficavam sozinhos os dois,
ele se envergonhava e deixava saltar dos olhos uma pontinha de amor e dos
lábios um sorriso tímido; ela sentia que uma onda de calor subia por baixo do
seu vestido, o suor descia pelo seu corpo e começava a se molhar por entre as
pernas, e tudo aquilo era uma sensação aprazível, bem igual àquela que tinha
sentido na noite em que se banhara nas águas mansas do rio, mas ela sentia
medo, sentia como se fosse ficando impura, como as mulheres perdidas de quem os
grandes falavam quando ela ainda era uma menina, e então inventava uma desculpa
qualquer e saía de onde estivessem, muito embora fosse grande a vontade de
agarrá-lo e tê-lo só para si. Gostava de José, mas não o queria; não sabia o
que queria, se um amigo ou se um homem todo seu.
José criava forças para se declarar, mas era fraco, e, na
hora exata, sentia raiva dos seus sentimentos. O destino parecia não colaborar
com os dois e, aos poucos, eles iam, de alguma forma, se afastando. Muito pouco
se falavam, e José se culpava por aquela distância entremeando os dois e sentia
uma grande falta do rio, e se culpava, ainda mais, pela debilidade de Luzia,
por isso, afastava-se de casa e falava ainda menos com Madalena e sua mãe.
Luzia
já não tinha mais forças, mas ainda era bastante esperta para saber sobre qual
sentimento era a perdição do rapaz. Ela gostava muito dele, sabia do amor que
sentia por sua filha e, também, do amor que ela carregava por ele, e, ademais,
sabia que o destino lhes era uno e que, ainda que qualquer um tentasse
afastá-los, o certo é que o destino não se desfaz, pois este já está traçado e
não resta-nos nada mais do que apenas cumpri-lo da melhor maneira possível. Ela
sabia que, em alguns casos, as pessoas logo descobriam o seu desfecho, noutros,
porém, como no caso daquele casal, eles recusam-se a vê-lo e, como consequência
dessa displicência, vivem a sofrer desolados.
Um dia a dor veio mais forte no peito e, vendo que já estava
por abandonar este mundo, mandou que Madalena fosse chamar por José. Este
chegou meio ressabiado enquanto Madalena, sentada junto à mãe, alisava os seus
cabelos brancos. Luzia tinha os olhos fundos e sua respiração era fraca e
ofegante, estava pálida e tinha o olhar ao longe enquanto rezava baixinho nas
contas de um terço que imaginava em seus dedos. O ar parecia pesado dentro
daquele quarto e uma grande tristeza tomava conta daquele ambiente. Num
balançar de sua mão, Madalena, ainda com os olhos cheios de lágrimas, saiu do
quarto para que pudessem ficar a sós. Ela ordenou-o que assentasse, pois que a
conversa era de grande importância e, talvez, a ultima de suas vidas. Ela
respirou profundamente, talvez buscando uma última força para expressar-se,
olhou firmemente nos olhos assustados de José, e disse:
- Meu filho, Sei que tô morrendo e isso não tem mais volta...
Faz tempo que espero por isso... Mas ainda pude me assustar.
José tentou falar alguma coisa, nem que fosse alguma
besteira para dissipar o ambiente amargo em que se tornara aquele quarto, mas a
voz calou-se na sua garganta. Luzia, ofegante e quase cochichando no seu
ouvido, falou-lhe algumas coisas incompreensíveis, até que chegasse ao assunto
que a perturbava:
Cê sabe que Madalena gosta d’ocê... E eu sei que ocê também
gosta dela. Ocês num sabe, mas o destino... Foi ele que me disse na voz do
rio... E ele disse que ocês é uma alma só. Sei que ocê sente por causa de mim,
mas, esquece, e procura conquistar o que o tempo e o rio te deu... – E ela
calou-se subitamente. Não morreu ainda, mas não falou ou fez qualquer gesto que
fosse. José, entendendo o que aquilo poderia significar, foi até a porta, onde
Madalena chorava, e chamou-a para perto de si, ambos ficaram juntos, velando a
forte mulher que acabava de suspirar. Era o destino, e embora eles não
soubessem, tudo aquilo tinha sido escrito no livro que a eles pertencia.
Eleovaldo acabara ficando sozinho e José era o único amigo
que o poderia ajudar naquela hora difícil. O féretro foi conduzido garbosamente
pela estrada em direção ao cemitério e o caixão tinha como condutores os dois amigos,
que o guiavam circunspectos. Luzia e
Madalena haviam chegado quase na hora do enterro e não tinham coragem de
apartá-los daquele sofrimento; sentaram-se, as duas, num dos vários bancos
estendidos pelo interior da sala e conversaram baixinho enquanto o tempo não
avançava.
José sentia uma imensa vontade de estar junto de Madalena,
queria abraçá-la e sentir seu corpo quente, mas continha-se e ficava ao lado do
seu amigo. O clima não era propício a amores incertos e dores de cotovelo, ele
sabia disso, e, como era de praxe, enchia-se, novamente, de pesares e torcia
para que tudo aquilo pudesse acabar rapidamente.
Ele sofria mais pelo fato de não poder estar ao lado de
Madalena do que pela morte do coronel Torres. No entanto, um outro sofrimento,
de equivalente proporção, enchia o seu coração de agonia: era difícil de
aceitar, mas, daquela hora em diante, o amigo viveria sozinho naquela casa
grande. Tinha ido ali apenas para conhecer a casa do amigo e dar-lhe uma
resposta que, segundo a sua concepção, haveria de ser uma negativa, à proposta
de Eleovaldo. Não tinha a menor vontade de ficar ali, pois estava certo de que
o rio era a sua verdadeira casa; no entanto, um sentimento profundo o unia ao
amigo, sentia-se estranho, como se fosse toda sua a culpa pela morte do velho
coronel. Nunca fora homem de resoluções precipitadas, mas a morte do coronel
tirava dele todo o direito de negar o pedido do amigo. Eram, de fato, grandes
amigos e não seria mais que sua obrigação estar sempre ao lado dele para
consolá-lo e diminuir, o quanto fosse capaz, todo o sofrimento que devia estar
sentindo naquele momento.
A casa já estava praticamente toda vazia; o velho não
possuía outros parentes próximos e as pessoas que velavam o corpo, logo que
terminou o enterro, foram se retirando, ficando apenas os empregados, Luzia,
Madalena e José. Ele estava sentado com Eleovaldo a um canto da sala, enquanto
as mulheres conversavam em um banco escondido próximo à porta de saída;
deixou-o sentado com seu sofrimento e veio ter com elas. José sabia em mente
todas as coisas que teria que dizer e, ainda que elas pudessem causar alguma
discussão, não teria mais como retroceder na sua resolução, e estava certo de
que tudo aquilo era o melhor para eles e para o amigo, já estava tudo acertado
com Eleovaldo.
Chegou de um modo vagaroso, como se pensasse em alguma coisa
distante daquele mundo, e, olhando bem nos olhos de cada uma, falou decidido:
-
Talvez essa não seja a hora certa, mas já tá tudo decidido; sai que cês gosta
da roça e do rio... mas a seca e todo o resto...vou ser é carvoeiro, vou mudar
de vida e ocês, se quiser pode vir comigo...
As mulheres não disseram palavra alguma. É bem verdade que
tinham o coração apertado e todo cheio de sofrimento, não queriam deixar o
velho rio, mas sabiam que José era o homem da casa e tinham plena convicção de
que ele sabia o que tinha que fazer. Madalena olhou fixamente para a sua mãe e,
como num gesto sincronizado, abaixaram, ambas, as cabeças e aceitaram com
submissão . José ainda tentou pronunciar alguma palavra de acalento, mas,
desistiu e, após respirar profundamente, voltou para junto do amigo.
Dormiram todos na casa grande àquela noite e no outro dia,
antes que o sol raiasse, José e as mulheres seguiram para a casa velha para
buscarem o que os pertencia. A noite fora longa e nenhum dos que ali estavam
conseguiu adormecer, mas José foi o único que, na sua impaciência, levantou-se
e passou quase toda a noite sentado num banco do jardim, olhando a lua e as
estrelas no céu, lembrando os ensinamentos do pai e da mãe que partiram, sem
saber se estava certo ou errado na forma que tinha agido. Madalena quis se
levantar também e ir para junto do amado, queria sentir o seu cheiro e tinha
esperança de receber em troca um pouco do seu amor, mas teve vergonha do seu
sentimento, benzeu-se, rezou um credo e uma Salve Rainha e passou toda a noite
revirando na cama. Luzia compenetrou-se na sua tristeza e ficou toda a noite
quietinha, como se estivesse morta, pensando no rio e nos espíritos dos
parentes que lá ficavam, sem companhia alguma. Pode até soar estranho, mas
Eleovaldo era o único que estava feliz; também não conseguira dormir e ficara a
noite toda virando na cama e sorrindo em silêncio.
A vida é mesmo cheia de surpresa.
Eleovaldo, seguindo o curso original da história, deveria estar apenas
entristecido com a morte do coronel – como, de fato, verdadeiramente o estava –
porém, o sentimento que o deixava naquele estado de alegria era outro bem
diferente. Veja você, leitor, que o rapaz tinha muita bondade em seu coração,
prezava pelo pai e gostava de verdade de José, no entanto, o destino lhe fora
cruel e ele gostava realmente de Madalena.
Também é verdade que, no início ele queria apenas o bem de
José, o que ainda desejava de todo o coração, no entanto, com o passar do
tempo, o amor foi crescendo e tomando conta do seu coração, e esse amor o
deixou ganancioso quando o assunto era a sua amada, e, então, ele passou a
distinguir o que era amor e o que seria apenas amizade. Tinha certeza de que
nunca seria capaz de trair o seu amigo, mas estava certo de que, com os seus
dotes e toda a sua beleza, poderia conquistar o coração de Madalena. Traçou
todos os planos nos seus mínimos detalhes e deduziu, enfim, que, lavando todos
para o seu território, maiores se tornariam as suas chances naquela questão.
Não pense que a morte do coronel Torres tenha sido culpa dele; o velho, ainda
que ninguém soubesse, fazia tempos que andava já bastante debilitado e a sua
morte foi apenas o desfecho de um doloroso episódio. Eleovaldo se entristecia
pela morte do velho, mas era esperto, e apaixonado, o bastante, para ver
naquele acontecimento uma grande chance de conseguir o amor de Madalena, pois
sabia da amizade que José tinha por si e, por esse motivo, ele não seria capaz de
recusar a sua proposta. Estava quase cego de amor por Madalena, mas era sóbrio
o bastante para ver que tudo aquilo seria também um grande favor ao seu melhor
amigo.
Toda história que se preze deve ter um mocinho, uma linda
mulher e um terrível bandido, no entanto, peco neste último, pois Eleovaldo não
era nenhuma cobra peçonhenta; contrariamente, ele era um homem sério e cheio de
boas intenções; não era feio, gozando de alguns traços de beleza. Era alto,
sem, contudo, ser muito grande; tinha os cabelos negros e corridos, como bem
mandava a boa moda das cidades; usava um bigode curto e bem aparado e vestia-se
com esmero. Ele era o que se diz “um partido a altura”; estava sempre limpo e
seus perfumes eram caros e cheirosos, no entanto, era simples e conquistava a
todos com sua conversa fácil e seu jeito sincero. Apenas não conseguira
conquistar Madalena, e era este o seu maior desgosto. Eis que tudo foi se
acumulando em seu coração, até que o amor o cegou por inteiro e ele não
conseguia pensar em nada que não fosse Madalena; não queria mal a quem quer que
fosse, mas seria capaz de tudo para tê-la ao seu lado.
Após algum tempo, a carvoaria trabalhava a todo vapor; José
quase não dormia e estava sempre junto aos camaradas para que pudessem dar
andamento à fabricação do carvão. Eram muitos os caminhões que saíam dali para
siderúrgicas em Sete
Lagoas e, em contrapartida, era muito o dinheiro que entrava
no bolso dele e de Eleovaldo. A amizade deles era incontestável, andavam sempre
juntos e a cozinha da casa em
que José morava era o lugar preferido do amigo; José não
sabia, mas não era a sua amizade a principal razão daquele gosto de Eleovaldo,
ele gostava mesmo é de poder todo dia estar vendo toda a beleza de Madalena.
Todos os dias, Eleovaldo ia à casa do amigo e, ainda que este não estivesse, só
saía depois que fosse tarde da noite.
José quase sempre tinha que viajar para outras fazendas da cercania, onde tinha
que virar a noite, pois eram grandes as discussões pelo preço do carvão e,
ademais, a fazenda de Eleovaldo era um pouco mais afastada do que todas as
outras fazendas; não sabia ele, no entanto que estas tantas viagens seriam a
sua perdição.
Eleovaldo não perdia tempo, e, enquanto o amigo viajava em
busca de negócios para a carvoaria, ele ficava na sua casa tentando conquistar
o coração de Madalena. Ambos, José e Madalena, viviam quase como que se fossem
marido e mulher; José gostava de Madalena e, por sua vez, ela devolvia este
sentimento, no entanto, apesar de toda a paixão que os unia, nunca encontraram
coragem de se unirem de verdade.
Eleovaldo se aproveitava desta distância que ainda existia
entre os dois e, na ausência do amigo, se declarava e contava falsas histórias,
sobre José para a sua amada. Madalena não acreditava em Eleovaldo, mas uma
gotinha de ciúme começava a brotar em seu coração.
Era ainda madrugada quando José partia para mais um dia de
viagens; passaria na casa de Zé Roxão e depois iria para a casa de Pituxo, já
bem próximo de Lagoa dos Patos. Levantou-se em silêncio, para não acordar
Madalena, e foi preparar o café; ia passando pelo corredor quando a viu deitada
sobre a cama, desembrulhada e com a porta entreaberta; chegou até a porta e
parou a contemplá-la, estava vestida apenas de calcinha e sutiã e, então, ele
pôde notar o quanto eram belas as suas formas; já gostava dela de verdade, mas
agora era um sentimento estranho que subia pelo seu corpo; antes gostava de
estar junto dela, mas agora sentia um desejo grande de possuí-la; entrou
devagar e, em silêncio, sentou-se junto dela, começou a acariciar todo o seu
corpo, enquanto era tomado pelo calor do desejo. Madalena não pensou em
desviar-se, sentia um grande desejo de possuí-lo e, silenciando-se, deixou que
ele a possuísse e deleitou-se de cada momento que se passava.
O sol já estava alto quando José saiu para a viagem,
Madalena ficou deitada, relembrando os momentos felizes que haviam se passado e
pensando em como seriam as suas vidas a partir daquele momento. Ele ia feliz
pela estrada, pensando em Madalena e fazendo muitos planos para o futuro;
voltaria ao entardecer e falaria com ela e, se fosse à vontade de Madalena,
casariam-se brevemente e viveriam felizes para sempre, com muitos filhos e uma
grande fazenda que pretendia comprar nas proximidades do Pitinha.
Imagino que você já esteja pensando que estejamos chegando
ao final da história e, talvez, pensando que Eleovaldo ficaria sem ação frente
a tanto amor; no, entanto, apesar de afirmar que já chegamos ao bem adiantado
da história, digo-lhe que ainda há tempo para que o nosso Eleovaldo apronte das
suas. Pois eis que, ao José sair daquela casa, e, pouco depois de Madalena ter
se levantado, ele chegou, pronto para dar fim aos seus planos; convenceria
Madalena de que seria o melhor partido e que o seu futuro com ele seria a sua
melhor escolha.
A rudeza e a simplicidade são a principal fraqueza do
sertanejo e foi justamente deste detalhe que Eleovaldo se aproveitou. Várias
foram as mentiras de que o rapaz valeu-se para tentar convencer Madalena, e,
dentre elas, a que mais a deixou estarrecida foi a história de que
José teria uma mulher com quem se encontrava em todas as suas supostas viagens;
ela acreditava no seu amado, mas ficou abalada com aquele assunto. Eleovaldo
atento a todos os detalhes, contou-lhe a história e ainda citou nomes que, ele
sabia, ela nunca poderia confirmar. José viajava durante quase toda a semana,
mas Madalena cria nas suas versões e nunca ousara perguntá-lo sobre coisa
alguma, mas agora uma grande dúvida tomara o seu coração. Eleovaldo, vendo que
já estava quase a convencendo, quis tirar a sua última cartada e afiançou que
naquele dia José não voltaria; disse a ela que ele estaria em casa da amante e,
querendo Madalena, iriam ambos até a dita casa para dissipar qualquer dúvida
que permanecesse em seu coração. Ela não aceitou e, respeitando as palavras do
amado, preferiu esperar até que o dia terminasse. Eleovaldo não se demorou como
nos outros dias, mas, ao sair, deixou a sua proposta: quisesse ela, iam os dois
à casa da amante de José e, se acaso mudasse de ideia, ele estaria pronto a
tomá-la como esposa.
Madalena foi tomada por um sentimento estranho, confiava em
José, mas o que Eleovaldo tinha dito começava a criar certa razão em sua mente;
resolveu esperar e só depois é que tomaria a sua decisão, ainda não pensava em
se casar com o outro.
O destino é, de fato, um grande traiçoeiro e, ainda que José
tenha feito todos os esforços para voltar para casa no mesmo dia, vários
problemas o fizeram atrasar; primeiro foi uma terrível doença que tomou um seu
cavalo que Eleovaldo o havia dado como presente, e, depois, alguns arruaceiros
– a mando de Eleovaldo – que o fizeram se atrasar por quase uma semana;
prenderam-no numa pequena cabana e, talvez, o matariam se não conseguisse fugir
por um pequeno buraco que fizera em uma das telhas de amianto. Chegou em casa
uma semana depois do dia em que saíra e grande foi o baque quando encontrou
Madalena casada com Eleovaldo. Tentou se explicar, mas a mulher quase não o
escutou; tentou falar com o amigo, mas este, que passara a andar com vários
capangas, nem fez questão de ouvi-lo.
Uma grande tristeza tomou conta de José, quase perdera a
vida em uma emboscada e ao voltar para casa havia encontrado a mulher casada
com o seu melhor amigo. Sentiu que aquele não era mais o seu lugar, pegou as
suas coisas, abandonou a carvoeira e voltou para junto do Sanharó. Passou a
viver sozinho em sua velha casinha, já não pensava em trabalhar e nem mesmo
queria viver; ficava todo o dia sentado à beira do rio ou ia para as vendas em
busca de cachaça para fazê-lo esquecer de Madalena.
Madalena vivia com Eleovaldo, mas nunca conseguira esquecer
do antigo amor; sentia saudades de José, mas, como que de repente, um grande
ódio tomava o seu coração e ela não conseguia perdoá-lo e, então, uma grande
confusão se fazia em sua cabeça. Ela não gostava de Eleovaldo, mas achava que
era seu dever ficar do lado do homem que a salvara de uma terrível traição. E,
desta forma, viviam, Madalena e José, cada qual cuidando da sua infelicidade.
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